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Mercados de previsão: Ferramentas de conhecimento, não de aposta

Artigo por Manuel Echanove, Diretor de Desenvolvimento de Negócios para Tokenização e Ativos do Mundo Real

Em tempos de incerteza política, econômica e social, é natural que as pessoas busquem ferramentas para entender melhor o futuro. No entanto, uma dessas ferramentas promissoras — a de mercados de previsão — ainda sofre com uma má compreensão pública e regulatória. Exemplos como a plataforma Polymarket são frequentemente enquadrados como formas de “jogo de azar”, uma classificação equivocada.

Mas o que são, afinal, os mercados de previsão?

Diferente das apostas comuns, onde o principal objetivo é o entretenimento ou lucro pessoal, mercados de previsão são espaços onde participantes compram e vendem probabilidades sobre eventos futuros — eleições, decisões políticas, avanços tecnológicos, entre outros. O preço de cada “ação” reflete a estimativa coletiva de probabilidade de um determinado resultado acontecer. Em vez de girar roletas, esses mercados giram em torno da informação.

E é justamente isso que os torna valiosos: são instrumentos epistêmicos. Ou seja, servem para agregar conhecimento disperso entre indivíduos e formar uma visão pública mais clara e objetiva sobre o que é provável ou relevante. Economistas como Robin Hanson e intelectuais de políticas públicas vêm defendendo há anos o uso desses mercados como uma forma mais robusta e menos tendenciosa de captar expectativas sociais do que enquetes ou editoriais.

Além disso, mercados de previsão condicionais — que associam a probabilidade de um evento à adoção de uma política específica — podem ter aplicações diretas na governança. Imagine um cenário onde se pode estimar, com base em incentivos financeiros reais, qual impacto provável determinada política econômica teria sobre o crescimento do PIB. Isso não apenas informa o público, mas também pode guiar melhores decisões políticas, baseadas em dados agregados de forma descentralizada.

Rotular isso como “jogo de azar” não apenas é impreciso, mas prejudica seu desenvolvimento e aplicação. Trata-se de confundir uma ferramenta de inteligência coletiva com uma casa de apostas. Sim, existe risco financeiro envolvido — como em qualquer mercado — mas o objetivo não é o acaso, e sim a precisão preditiva.

É claro que os mercados de previsão não estão isentos de falhas. Podem ser manipulados, sujeitos a bolhas e influenciados por desinformação. Mas a resposta a isso está na regulamentação sensata e com a tecnologia blockchain.

A blockchain também oferece uma solução muito relevante, principalmente por proporcionar mais transparência. Em uma plataforma centralizada, por exemplo, existe o risco de manipulação dos resultados por parte de uma pessoa ou entidade sem que isso seja detectado. Já em um sistema baseado em blockchain, esse tipo de interferência seria muito mais difícil de acontecer. Mesmo em casos de manipulação sistêmica, os próprios participantes teriam meios de auditar e identificar quando e como isso ocorreu.

É necessário compreender sobre o uso dessas plataformas, além de investir em transparência, acessibilidade e integração com instituições públicas. Um governo que se importa com políticas baseadas em evidência faria bem em ouvir o que esses mercados têm a dizer.
No século XXI, informação é poder. E os mercados de previsão, longe de serem apenas apostas disfarçadas, são uma maneira inovadora de transformar opiniões dispersas em sabedoria coletiva. Ignorar isso é desperdiçar uma das ferramentas mais promissoras da era digital.

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