Séries

Série A História do Windows – Introdução

Neste mês de outubro, a Microsoft lançará a mais nova versão de seu sistema operacional, o Windows 8. O sistema está envolto em desconfiança. Mesmo com meses de antecedência para baixar, instalar e testar a nova criação da empresa de Bill Gates, muita gente ainda não se acostumou ou simplesmente não gostou das mudanças realizadas. De fato, o Windows 8 não trouxe apenas mudanças incrementais, que melhoram o desempenho e estabilidade gerais. Ele promoveu mudanças estruturais severas, como por exemplo, movendo o antigo Menu Iniciar para toda uma tela, chamada Start Screen. Inserindo, também, uma nova interface de usuário, que começou se chamando Metro e depois, por questões judiciais, foi renomeada para Modern. Além disso, o sistema foi pensado também para o uso em tablets e computadores com tela de toque. Enfim, se você acompanha o Guia do PC já deve estar por dentro da maioria das novidades, já que a gente está acompanhando o sistema de perto faz tempo. Inclusive, se quiser e tiver um pouco de tempo livre, pode ler nossas impressões no link abaixo:

Mas gostando você ou não, o lançamento de um novo Windows mexe sim com toda a indústria de tecnologia. Afinal de contas, ele é usado em cerca de 90% dos computadores de todo o mundo. E agora ele quer batalhar também na frente de combate dos dispositivos móveis. O Windows 8 é, deveras, uma jogada bastante ousada da Gigante de Redmond. Se bem aceito, ele fará frente aos já consagrados iOS e Android, que se digladiam pela atenção dos usuários nos aparelhos móveis. Além disso, ele pavimentará a estrada para que futuras versões abandonem a interface clássica e se tornem cada vez mais touchscreen-friendly. Por outro lado, se fracassar, a Microsoft terá perdido bilhões de dólares em investimento e tempo precioso de pesquisa e desenvolvimento. Além do mais, terá de reestruturar seus planos. Tendo em vista a iminência deste lançamento tão importante, nós do Guia do PC preparamos uma série especial de artigos sobre a história deste sistema que é o mais importante e o mais usado em todo o mundo, o Microsoft Windows.

Se você não é novo por aqui, certamente se lembra da nossa última série: Hardware para Iniciantes. Caso você tenha conhecido o GdPC há pouco tempo, pode clicar no link abaixo e conhecer um pouco sobre a nossa primeira série:

A receptividade dos leitores foi excelente e, desta forma, decidimos usar o mesmo esquema agora. Nos próximos dias, você terá artigos bem detalhados sobre as mais diferentes versões do Windows, contando um pouco sua história e suas peculiaridades. Iremos voltar 30 anos no tempo e estudar um pouquinho sobre a evolução do sistema operacional mais famoso do mundo. E no final da série, claro, compilaremos tudo em um eBook para que você possa baixar e consultar facilmente depois. Espero que goste. Bom, mas antes de começarmos a falar sobre o Windows em si, julgo apropriado comentarmos sobre a sua criadora, a Microsoft.

Microsoft – A criadora do Windows

bill-gates-paul-allen
Bill Gates (direita) e Paul Allen (esquerda) nos primórdios da Microsoft

Microsoft Corporation foi fundada no dia 04 de abril de 1975, por Bill GatesPaul Allen. Pouco tempo depois eles contrataram um amigo em comum, chamado Steve Ballmer, que hoje é o CEO da companhia. O nome da empresa deriva de duas palavras em inglês: microcomputersoftware. No começo, a grafia era Micro-Soft, tendo o hífen removido posteriormente, como você deve saber. Portanto, a Microsoft é uma empresa que produz “softwares para microcomputadores”. Ou pelo menos era assim em seu começo, já que hoje ela também fabrica hardware, como o console Xbox 360 e os seus excelentes periféricos, como mouses e teclados.

Eu considero a Microsoft uma empresa oportunista por natureza. E a sua própria história confirma isso. Ela surgiu devido a uma matéria que Bill Gates viu num periódico de tecnologia, a Popular Electronics. Ele falava sobre o Altair 8800, um dos primeiros microcomputadores da história, que era fabricado pela MITS (Micro Instrumentation Telemetry Systems). Bill Gates teve uma ideia que para os dias de hoje, é óbvia: desenvolver um interpretador de linguagem de programação. Um computador, sem um software, sem entender linguagem alguma, é apenas um conjunto de chips e placas sem utilidade. E a linguagem escolhida foi o BASIC.

Assim, Gates e Allen enviaram uma carta para a MITS, indagando se eles estariam interessados em um programa para o Altair 8800. Em não recebendo resposta, os dois resolveram tentar uma cartada final e ligar para o dono da empresa. Ao explicarem o que “tinham em mãos” para oferecerem ao produto deles, o dono da MITS se mostrou interessado e marcou uma reunião, para eles fazerem uma demonstração do programa. Eis uma vitória do oportunismo. Eu digo isso porque até aquele momento, Bill Gates e Paul Allen não tinham nenhum interpretador BASIC. Nem preciso dizer que ao desligar o telefone eles correram para programar, não é mesmo? Ficaram acordados por noites à fio a fim de terminar o que eles chamaram de Altair BASIC, ou MITS 4K BASIC. Para a sorte deles, o interpretador, “feito nas coxas”, funcionou logo de cara. E assim surgia a Microsoft Corporation.

Mas como ela foi parar no Windows? Bem, antes de chegarmos nesse ponto, precisamos falar sobre outra coisa…

MS-DOS – O embrião do Windows

ms-dos
O sistema MS-DOS

Naquela época, final da década de 1970 e meados de 1980, a IBM era a gigante das empresas de tecnologia. Era o sonho de todo nerd/geek um dia trabalhar na IBM. Ou derrubá-la, no caso dos empreendedores. Bem, nesse período eles estavam construindo o que seria o primeiro computador pessoal da história. Estou falando do IBM-PC. Este computador usava uma arquitetura aberta. Isso significa que todos os seus componentes podiam ser encontrados em outros fabricantes e fornecedores OEM. Além disso, a BIOS teve suas especificações publicadas. Desta forma, qualquer outro fabricante poderia desenvolver seu próprio PC, desde que pagasse royalties à IBM. Este sistema de produção deu tão certo que ele é usado até hoje! Basta ver o número de fabricantes de PCs e notebooks que temos atualmente (Dell, Lenovo, HP, Samsung, etc…). E se você quiser, pode montar até seu próprio PC, comprando peça por peça. Essa foi a minha escolha.

Obviamente o IBM-PC precisava de um sistema operacional. À priori, a Big Blue tentou negociar com a Digital Research para que eles desenvolvessem o SO da máquina. Porém, as negociações não vingaram. E foi aí que entrou a Microsoft com todo o seu oportunismo. Bill Gates, sabendo dos planos da IBM, conseguiu marcar uma reunião com o alto escalão da companhia para oferecer o seu “produto”. Gates vendeu seu peixe, o DOS (Disk Operating System), um sistema operacional que rodava diretamente da unidade de armazenamento. Mas havia um problema: a Microsoft não tinha uma linha de código sequer deste DOS. Ele simplesmente não existia. Mas o pulo do gato não foi vender um produto fictício para uma grande empresa. A jogada de mestre foi licenciar o tal produto fictício. A Microsoft não abriu mão dos direitos intelectuais do sistema. Apenas o licenciou para a IBM. Desta forma ela ficava livre para negociar com qualquer outra empresa também. A Big Blue aceitou a oferta na época por dois motivos: 1) eles achavam que os lucros estavam no hardware e não no software; 2) eles estavam com uma certa pressa para lançar o computador.

Temos de admitir: Bill Gates foi corajoso ao licenciar um produto imaginário. Mas como o trio Gates, Allen e Ballmer se sairiam dessa? Bom, Paul Allen sabia de “um cara” que estava desenvolvendo exatamente o que a Microsoft prometeu: um sistema operacional em disco. Mas ele não tinha certeza se esse tal cara ainda tinha o SO. Então eles foram tentar a sorte. O tal cara se chamava Tim Paterson. Ele trabalhava para uma empresa de nome Seattle Computer Products. Ele desenvolvera um sistema que na verdade era um clone do CP/M, da Digital Research. O QDOS (Quick and Dirty Operating System, Sistema Operacional Rápido e de Baixa Qualidade, em português) foi comprado pela Microsoft pela quantia de 50 mil dólares! Pode parecer muito, mas levando em conta o quanto vale o Windows hoje, acho que Tim Paterson fez um mau negócio. Ele também foi contratado pela Microsoft para trabalhar no sistema por 4 dias na semana, realizando melhorias e aperfeiçoamentos para torná-lo mais funcional.

Como você pôde ver, mais uma vez a Microsoft saiu na frente por causa de seu oportunismo. O QDOS, que fora rebatizado para MS-DOS (MicroSoft-Disk Operating System) foi usado no IBM-PC e logo se espalhou para todas as outras versões de computadores pessoais, tornando-se o sistema operacional mais usado na época. Mas como ele transformou-se em Windows?

O surgimento do Windows

windows-1
Microsoft Windows 1.0

Apesar de seu sucesso, o MS-DOS ainda era complicado para a maioria das pessoas. Isso acontecia por um único motivo: ele não era intuitivo. O sistema não passava de uma tela preta com caracteres verdes ou brancos. Para usá-lo, fazia-se necessário saber os comandos que executavam as diversas funções do SO. Qual seria a solução para isso, então? Bom, novamente, o oportunismo trouxe a resposta de mão beijada para Bill Gates.

Em outro ponto dos Estados Unidos, havia uma empresa chamada Apple. Essa companhia, cujo símbolo é uma maçã, era dirigida na época pelo hoje conhecido (e finado) Steve Jobs. Jobs foi um empreendedor ousado e visionário, que via nas coisas mais inusitadas produtos de sucesso. E foi assim com as invenções da XEROX Corporation. Ela inventou nada mais nada menos que o mouse e a interface gráfica. Só que os executivos da empresa não viram utilidade para essas invenções e não deram continuidade às pesquisas. Mas Steve Jobs viu ali uma oportunidade para fazer um produto revolucionário. Assim, em 1978 ele começou o desenvolvimento do Apple Lisa, o primeiro computador a usar uma interface gráfica ao invés de comandos. Por fatores diversos, o Lisa foi um fracasso de vendas. Mas Steve Jobs já estava trabalhando no projeto Macintosh, um computador melhorado e mais barato, que também usaria a interface gráfica.

Ao ver aquela tela com botões, janelas e um ponteiro onde ele poderia mover e interagir com os arquivos, Bill Gates ficou enfurecido. Eles não tinham pensado em nada parecido antes e agora ele queria a qualquer custo ter uma interface gráfica em seu sistema. Assim, ele foi direto até a fonte do conhecimento, a Apple. Em uma reunião com Steve Jobs, Gates conseguiu persuadi-lo a firmar uma parceria. Gates trabalhou o ego de seu rival, falando que ele queria mesmo era trabalhar com a Apple, ao invés de com a IBM. Que um dia ele queria ser como Steve Jobs e que queria fazer parte daquela família. Assim, a Microsoft entrou para o time e recebeu 5 protótipos do Macintosh, para que eles pudessem desenvolver programas para ele, como de fato o fizeram. Mas não ficou apenas nisso. Eles estudaram aquela interface gráfica a fundo e desenvolveram a sua própria, que inicialmente recebeu o nome de Interface Manager, mas que logo ficou conhecida como Windows. E nem preciso dizer que ela era muito semelhante à interface desenvolvida pela Apple.

As primeiras versões do Windows não eram um sistema operacional propriamente dito. Mas sim uma camada gráfica que rodava sobre o MS-DOS. A pressa em desenvolver a interface gráfica, com o intuito de lançá-la antes do Macintosh, trouxe várias mazelas. Isso por que o sistema ainda tinha uma série de bugs e defeitos que foram sendo corrigidos com o tempo. Tanto é que a sua versão 1.0 demorou praticamente 3 anos para ser finalizada. Mas foi desta forma, correndo contra o tempo e na surdina que a Microsoft mais uma vez usou o oportunismo a seu favor.

No próximo capítulo dessa série, veremos sobre as primeiras versões do Windows, a 1.0 e a 2.o, bem como suas atualizações. Então, o que achou deste capítulo introdutório? Deixe a sua opinião nos comentários, por favor. Feedback é bom e nós gostamos. :)

Tags: Microsoft, Séries, Windows

Você também vai gostar

Leia também!