Artigo por Thais Borges, diretora comercial e de marketing da Systax
A Reforma Tributária, que entra em vigor no início do próximo ano, tem como premissa a simplificação. No entanto, por trás desse discurso otimista já se desenha uma corrida silenciosa nas empresas brasileiras pela disputa por profissionais capazes de transformar a nova lógica fiscal em inteligência operacional.
A movimentação marca o início de uma espécie de “dança das cadeiras”, onde os talentos mais disputados são os que superam o título de especialistas tributários para mostrar que dominam a legislação atual e conseguem transformar a complexidade da Reforma em diferencial competitivo.
Tal movimento vai além de uma questão de readequação técnica por parte do profissional; é sobre sua sobrevivência no novo cenário corporativo. Isso porquê a futura convivência entre dois sistemas tributários – tanto o atual quanto o novo IVA Dual – impõe um vale de complexidade sem precedentes para a tributação das empresas. O desafio, portanto, será sobre o desafio de revisitar a estrutura fiscal das empresas, ajustando-a para suportar dois modelos tributários em transição a ponto de lidar simultaneamente com regras que não dialogam entre si.
O discurso corriqueiro de que “as companhias precisarão se adaptar” se enfraquece diante de uma realidade em que a adaptação manual pode ser inviável. Mecanismos como o split payment e regras de transição serão a base da reengenharia digital nos sistemas exigida para os próximos anos. Justamente por isso, pessoas que entendam o impacto dos diferentes regimes na carga tributária e consigam orientar decisões de negócio a partir disso. A demanda não será mais por executivos, mas por analistas e líderes que transformem a complexidade tributária em inteligência operacional. Em um cenário de transição entre modelos, quem domina a tecnologia e sabe interpretá-la sob a ótica fiscal ocupará as posições mais disputadas..
Como consequência, temos o surgimento e consolidação de novos perfis de carreira. Dentre as novidades está a posição de cientista de dados fiscais, encarregado por liderar o repositório de informações estratégicas, sendo capaz de apontar ineficiências e reduzir cargas tributárias. Outra novidade é o PMO Tributário, figura praticamente inexistente no Brasil até pouco tempo atrás, e que assume a função de orquestrar áreas historicamente isoladas, como Fiscal, TI, Jurídico, Operações e Finanças, em torno de uma mesma agenda de atuação.
Muito além de posições, o movimento diz respeito a uma mentalidade. Empresas devem aproveitar o momento de transição da Reforma para passar a enxergar o aparato fiscal simplificado num instrumento de eficiência. Esse salto de maturidade cria, por consequência, trilhas de carreiras que unem raciocínio lógico, gestão de projetos e, obviamente, fluência tributária.
É o início de uma nova era de valorização das carreiras fiscais e tecnológicas no Brasil. As empresas que compreenderem isso investirão em tecnologia e capacitação para reter seus talentos, não apenas para evitar a “dança das cadeiras”, mas para garantir consistência operacional e vantagem competitiva. Já aquelas que continuam tratando o time fiscal de TI apenas como área de suporte inevitavelmente pagarão um preço alto, seja em multas, retrabalhos, perda de eficiência e de seus bons profissionais.
No fim, a verdadeira disrupção da Reforma não está apenas nos novos tributos, mas em quem os traduz em vantagem competitiva. O futuro pertencerá às empresas que souberem unir inteligência humana e tecnologia de ponta, aquelas que investirem em talentos capazes de analizar e decidir com base em dados. São elas que transformarão complexidade em previsibilidade e estarão um passo à frente quando o novo sistema tributário começar a rodar.








