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Análise de Grand Theft Auto IV para PC

O sonho americano

Quando a Rockstar North ainda se chamava DMA Design, os irmãos Sam Houser e Dan Houser com ajuda de dois amigos, Dave Jones e o designer Zachary Clarke, deram vida a primeira versão do que seria mais tarde a franquia de ação de maior sucesso de todos os tempos, Grand Theft Auto. Nascia, então, GTA, lançado ao PlayStation e ao Game Boy no final de 1997.

Grand Theft Auto I
Grand Theft Auto I

A segunda versão, ainda bem semelhante a primeira, saiu logo em 1999 para o PlayStation e mais tarde aos computadores. Porém, a série só explodiu de vez com Grand Theft Auto III, lançado em 2001, onde desta vez o jogo seria baseado em Liberty City, uma cidade levemente inspirada em Nova York. A principal novidade era o visual 3D, com cenários extremamente interativos e detalhados.

Grand Theft Auto III
Grand Theft Auto III

Seguindo o mesmo padrão e sem apresentar grandes novidades entre si, saíram ainda Grand Theft Auto: Vice City em 2002, se passando na paradisíaca Miami dos anos 80; e Grand Theft Auto: San Andreas em 2004, que ajudou a Sony na explosão de seu PlayStation 2, apresentado em um só mapa 3 grandes cidades norte-americanas, Los Angeles, San Francisco e Las Vegas. Todas as versões de GTA citadas acima, desde o III, só foram receber uma adaptação ao computador alguns meses depois.

Grand Theft Auto: Vice City
Grand Theft Auto: Vice City

Após 4 anos de espera, a Rockstar Games e a Take-Two Interactive confirmaram Grand Theft Auto IV e após um atraso de 6 meses, o jogo saiu ao Xbox 360 e ao PlayStation 3 no dia 29 de Abril deste ano, lotando lojas e fazendo fila. O título ainda bateu dois recordes notáveis: o jogo mais caro já produzido, com orçamento superando os US$ 100 milhões, e o produto de entretenimento mais lucrativo nas primeiras horas de venda, atingindo a marca dos US$ 310 milhões nas primeiras 24 horas e ultrapassando os US$ 400 milhões logo na primeira semana. Depois de boatos e mentiras – com destaque especial ao golpe que 2 amigos deram no suporte da Take-Two -, e uma espera sofrida, a adaptação ao PC foi oficializada em Agosto deste ano e lançada no dia 2 de dezembro.

Do leste europeu direto à Liberty City

Depois de servir à Marinha bósnia durante os conflitos que assolaram o Leste Europeu após o fim da União Soviética, Niko Bellic é convidado por seu primo Roman Bellic, que assegura ter alcançado o “Sonho Americano” – muito dinheiro, mulheres, mansões enormes e carros de luxo -, para começar uma nova vida na perfeita América, a terra das oportunidades.

Desembarcando na revigorada Liberty City, após uma longa viagem clandestina em um navio de carga, Niko Bellic não demora para perceber que seu primo maluco não conquistou nada do que tanto falou. Roman mora em uma espelunca e gerencia uma pequena firma de transportes, além de estar devendo até as cuecas a agiotas locais, o que leva Niko a ter que trabalhar, em nome de seu primo, para pagar suas dívidas.

Assim, aos poucos, o recém-chegado Niko começa a conquistar a confiança de alguns figurões e vai subindo em sua “carreira criminal”, como de praxe na franquia.

O coração da América

Nunca se viu uma representação tão fiel à Nova York em um jogo de vídeo-game. Liberty City já fora apresentada em Grand Theft Auto III e Grand Theft Auto: Liberty City Stories, porém, nessas versões, a cidade carregava marcas não só de Nova York, como outras cidades estadunidenses.

Em GTA IV, porém, Liberty City está fortemente baseada na mais populosa metrópole do planeta e ainda apresenta um pequeno pedaço de Nova Jersey em sua composição. É uma experiência incrível andar pela cidade, enxergando a ilha de Manhattan e seus enormes arranhas-céus, incluindo o Empire State Building e a levemente modificada Estátua da Liberdade. Sem falar na magnífica ponte do Brooklin e o enorme Central Park.

Além disso, as opções disponíveis para serem visitadas incluem desde safehouses onde o jogador pode salvar o seu progresso e lojas de roupas e acessórios onde é possível alterar a aparência de nosso amigo croata, passando por restaurantes e casas de boliche, chegando a teatros e salões de apresentação dos mais variados tipos. Alguns desses lugares ainda podem ser visitados com a companhia de Roman ou com sua namorada.

Algumas missões do jogo podem ser acessadas através de um celular que Niko carrega. Com ele, é possível ligar para seus amigos para marcar encontros ou abrir novas missões, ligar para certos números que o jogador encontra e ativar as famosas trapaças. Mais tarde, é até possível baixar e alterar o ringtone e trocar o papel de parede.

Ao andar pela rua, a sensação que se tem é de que a cidade está realmente viva. Os pedestres, além de simplesmente vagarem pelas ruas, fazem exercícios em parques, compram produtos de vendedores ambulantes, usam celulares, entre dezenas de outras ações. Em alguns casos, é possível até ver alguns criminosos arrumando confusão com a polícia.

Melhorando ainda mais a imersão na enorme metrópole, há ainda 16 rádios que tocam diferentes gêneros músicais e realmente será difícil não gostar de nenhuma. Para finalizar, a Rockstar implementou uma ajuda e tanto para auxiliar Niko a chegar a seus objetivos de forma mais rápida e fácil, sem se perder pela imensidão de Liberty City. Agora, seu radar marca as ruas ou becos que devem ser seguidos para chegar de forma mais rápida até seu objetivo. O mesmo serve para chegar a restaurantes, clubes, pay ‘n’ sprays, teatros, entre dezenas de outros lugares.

GTA IV + Gears of War = ?!

Quando saiu em 2006 no Xbox 360 e mais tarde em 2007 nos PCs, Gears of War surpreendeu por agregar a sua mecânica de jogo um sistema de cobertura que permitia o jogador se proteger da ameaça inimiga atrás de objetos que estiverem ao seu redor e ainda revidar fogo de forma segura.

Não demorou para que outros jogos, como Brothers in Arms: Hell’s Highway, Mass Effect, 007: Quantum of Solace, e dezenas de outros, também adaptassem seus cover systems. Seguindo esse padrão, a desenvolvedora do jogo Rockstar North incluiu no novíssimo RAGE – o motor gráfico do jogo sobre o qual falaremos mais a frente – um sistema de cobertura. Se os belos tiroteios de GTA já eram divertidos, agora estão ainda melhores. Basta apertar a tecla Q para que Niko pule em direção à cobertura mais próxima.

Em posse de uma arma, há duas opções: atirar em bind fire – “fogo cego” – apenas mirando com o mouse e usando o botão esquerdo para efetuar os disparos, que é claro, não serão precisos, já que neste caso, Niko não olha para onde está atirando; ou simplesmente usando o botão direito do mouse para mirar no alvo e efetuando os disparos com o botão esquerdo. Aí sim Niko abandona a cobertura por alguns instantes para abrir fogo.

É claro que sem a posse de uma arma, o sistema de cobertura não terá uso. Para tal, o jogador terá a sua disposição diversos brinquedos bélicos. Nos combates de pouca intensidade, a pistola de 9mm ou uma pistola-metralhadora Mac-10 geralmente dará conta do recado. Já em combates medianos, uma boa opção seria a submetralhadora MP5, eficiente em médias distâncias. Se o problema for tiroteios em close quarters, a clássica escopeta será extremamente útil para eliminar quaisquer ameaças. Se ainda assim, a coisa ficar preta, o jogador pode apelar para os armamentos hardcores, iniciando com a pistola de alto calibre Desert Eagle, chegando ao o rifle de assalto CAR15 – o irmão da M4, sobrinho da M16 -, a clássica AK-47, granadas e molotovs e terminando com destruidor anti-tanques RPG-7, capaz de mandar carros para os ares e explodir helicópteros em pleno vôo.

Talvez você ainda prefira utilizar o combate corpo-a-corpo para eliminar alvos mais “sorrateiramente”, pois se as forças policiais forem informadas de suas atrocidades, eu garanto, você talvez não dure muito. Há um diferencial nesta versão de GTA no ato de fugir da polícia. Logo quando a polícia tiver conhecimento de atividades hostis, uma área de busca, que pode ser visualizada no seu radar, será instaurada ao seu redor. Rapidamente, algumas unidades em veículos e a pé serão deslocadas ao redor da área de busca. Para escapar da polícia, você deve cair fora da área sitiada o mais rápido possível. Há os seis habituais níveis de polícia: os 2 primeiros apenas contam com viaturas e policiais. O terceiro e o quarto já contam com o apoio do helicóptero e as forças especiais da polícia. O quinto e o sexto nível são respondidos pela N.O.O.S.E., uma espécie de força anti-terrorismo, que substituiu a presença do exército, como foi visto nas versões anteriores. Vale lembrar que o clássico Pay ‘n’ Spray também está presente, só que para despistar os policias mudando a cor de seu carro é necessário que eles não o vejam entrando na garagem de pintura, além de que enquanto maior o nível de perseguição, maior será a área de busca e mais trabalho Niko terá para cair fora de lá, se ainda permancer vivo, é claro.

Rockstar Advanced Game Errors?

As maravilhas de Grand Theft Auto IV acabam por aqui, quando chegamos ao quesito técnico-gráfico. É triste ver como a adaptação ao PC foi mal feita, ao ponto de ser ridiculamente deplorável. Os problemas de concentram em dois fronts: texturas e sombras, e desempenho.

A verdade é que GTA IV para PC foi adaptado as pressas, parecendo que nem testado foi. A impressão que se tem em certos sistemas é que o jogo não passa de um Pré-Alpha, levando em consideração a quantidade de defeitos existentes, que variam desde texturas aparecendo no lugar errado ou chegando a nem aparecer (assista o vídeo abaixo), pop-ins atrasados, sombras deploráveis, erros de compatibilidade do sistema operacional e os drivers de vídeo, filtros que mais serrilham a textura do que ajudam a deixá-las lisas, mal uso da memória do sistema (ocasionado pelos memory leaks), consumo exagerado da memória de vídeo, slowdowns irritantes, framerate baixos em sistemas de ponta e, finalmente, travamento completo do jogo (o famoso “crash”).

A situação fica feia mesmo ao perceber que não importa o que se faça ao já restrito menu de opções gráficas, a performance vai continuar a mesma, seja em configurações altas ou baixas, se que é possível diferenciá-las. Além disso, o jogo não permite que se use configurações mais altas do que seu computador possa aguentar sem maiores problemas, colocando um belo empecilho no caminho daqueles que querem levar seu hardware ao extremo. Apesar disso, a Rockstar criou um comando que desabilita tal restrição, só que, em 90% dos casos, utilizar uma configuração “não-permitida” leva o jogo a bugar totalmente, com texturas e um framerate maluco.

Sem falar na burocracia maldita que a Rockstar resolveu enfiar no jogo como parte de sua “eficiente” muralha anti-pirataria. Gastamos um bom tempo ativando o jogo online e criando as contas na Games for Windows Live, para poder salvar o jogo, e no Rockstar Social Club necessário para a jogatina multiplayer e o compartilhamento de vídeos. Como se não bastasse, o Social Club ainda cria um ícone inicializável que pede o login no sistema online da Rockstar toda vez que o computador é iniciado. Por fim, só é possível entrar no jogo se todas essas contas, mais o SecuROM estiverem rodando.

Não é possível dizer que o jogo é bonito graficamente. Sim, apresenta um nível de detalhes superbo e uma realidade de cair o queixo, mas do que adianta se tudo isso é apresentado de forma mal feita, serrilhada e, em alguns casos, no lugar errado?

Esfriando um pouco a cabeça, a única coisa que merece ser aplaudida de pé é a atuação de um dos mais belos motores físicos já vistos em jogos: o euphoria Motion Engine, desenvolvido pela Natural Motion. Provavelmente, sua melhor apresentação está nos atropelamentos. Pegue um veículo e vá para cima de alguns pedestres para ver o incrível trabalho da euphoria!

Considerações finais

A pergunta que fica, infelizmente, não é se a adaptação ao PC de Grand Theft Auto IV foi o melhor game do ano, mas sim se foi o maior fiasco do ano. O título é praticamente o mesmo visto nos consoles, com a adição de um editor de vídeos que ainda apresenta problemas e o inédito modo multiplayer oficial reforçado, trazendo cerca 15 estilos de jogo distintos, desde o clássico deathmatch, passando por modos em que os times devem executar missões de escolta ou de assassinato, chegando ao divertido “polícia e ladrão”, tornando Liberty City uma verdadeira cidade sitiada.

A campanha é dinâmica e empolgante, com personagens variados e uma possibilidade de interação sinistra. Há centenas de veículos disponíveis, desde carros modestos, passando por modelos esportivos, até helicópteros e barcos. A chance de visitar uma Nova York virtual é simplesmente emocionante. O sistema de cobertura dá um ar totalmente moderno aos tiroteios da franquia.

Porém, o quesito mais cobrado de hoje em dia foi simplesmente jogado para o alto pela Rockstar Toronto (responsável pela adaptação ao PC). Grand Theft Auto foi e ainda é a mais popular franquia de ação de todos os tempos, e como pôde a Rockstar massacrar o jogo com um visual tosco e bugs bizarros, além de praticamente proibir os donos de máquinas mais modestas a terem a chance de contemplar o mais forte candidato ao jogo do ano aos consoles? Já que a esperança é a última que morre, vamos torcer para que todos esses problemas sejam corrigidos, nem que o título seja relançado.

Tags: Hardware, Jogos

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