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Curso básico de redes – parte 4

Placa ARCNET ISA

Este artigo é uma colaboração do leitor Felipe Alencar, do blog Onisciência. Agradecemos! Deseja colaborar também? Envie um e-mail para pauta@guiadopc.com.br.

Os finados rivais do Ethernet

O Ethernet, com seus diversos padrões, hoje domina absoluto no universo das redes locais. Eles são baratos, são rápidos, são flexíveis, é um padrão aberto, atendem às mais diversas necessidades… enfim, eles são tão eficientes que é difícil imaginar que alguma empresa ouse criar um padrão proprietário para competir de frente com o Ethernet. Sim, podemos dizer que a hegemonia no mundo das redes locais pertence aos padrões Ethernet por tempo indeterminado. Mas nem sempre foi assim. Logo nos primórdios, padrões proprietários ameaçavam tirar a Ethernet do mercado. Vocês conhecerão hoje os finados rivais do padrão Ethernet. O ARCNET e o Token Ring.

Leia:

ARCNET

Desenvolvido em 1976 e chegando ao mercado em 1977, o padrão proprietário ARCNET disputava diretamente com os padrões 10BASE-5 e 10BASE-2 do Ethernet. Suas principais vantagens em relação ao seu rival foi o custo, que no início era relativamente mais baixo e seu alcance. Os cabos coaxiais RG62/U, usados pelo ARCNET, podiam ser usados a até 610 metros, enquanto que os usados no padrão 10BASE-5 chegavam no máximo a 500 metros. Além disso, tinha toda a questão da praticidade, já que como vimos anteriormente, o 10BASE-5 era chato de se trabalhar e nada prático. Devido a isso, o ARCNET conseguiu se tornar mais popular que o Ethernet.

Não obstante, ele também tinha os seus problemas. A taxa de transmissão era muito baixa, de apenas 2.5 megabits. Até mesmo o protótipo do Ethernet transmitia mais rápido, a 2.94 megabits! Além disso, por ser um padrão proprietário, a quantidade de fabricantes produzindo placas ARCNET era limitado e os preços não caiam na mesma velocidade que das placas Ethernet.

Ao perceberem que o padrão aberto estava sendo mais aceito e adotado, eles posteriormente abriram o padrão e originou o ANSI ARCNET 878.1, o que trouxe mais opções de cabeamento, inclusive cabos de par trançado, e mais fabricantes produzindo as placas. Além disso, eles aumentaram a taxa de transmissão para 20 megabits em 1999, com o ARCNET Plus, mas já era tarde demais, as placas Ethernet já estavam bastante acessíveis, o padrão já era mais flexível com o uso de cabos de par trançado e a taxa de transmissão era de 100 megabits desde 1995. Assim, o ARCNET não resistiu e acabou perecendo.

Placa ARCNET ISA
Placa ARCNET ISA

Token Ring

O Token Ring surgiu um pouco depois, em meados dos anos 1980, e foi desenvolvido pela gigante IBM. Ela chegou a investir maciçamente no padrão, levando-o ao topo no âmbito corporativo! Ele já utilizava cabos de par trançado e a ligação entre as estações era feita através de um hub, chamado de MAU (Media Access Unit) ou ainda de MSAU (Multistation Access Unit). Cada MAU possui tipicamente 10 portas, sendo que 08 eram para a ligação com as estações e as outras 02 para serem usadas com outros MAUs.

Um MAU típico
Um MAU típico

Outra diferença em relação ao padrão Ethernet era que apesar de usarem cabos de par trançado, o padrão da IBM optou por usar blindagem nos cabos e um conector diferenciado, chamado de IBM Data Connector, que era bastante grande, medindo 3 x 3 cm. A blindagem, juntamente com o tipo diferente de conector, tornaram o cabo bem grosso.

IBM Data Connector
IBM Data Connector

Qual era a vantagem do Token Ring em cima do padrão Ethernet? O seu trunfo não residia na velocidade de transmissão, que era baixa, de apenas 4 megabits, residia num recurso que dava nome ao padrão, o token. Como funcionava?

Como os MAUs eram dispositivos burros, ou seja, apenas retransmitiam os pacotes para todas as estações, o risco de colisão de dados era muito grande. Para evitar esse incômodo, foi criado o sistema de token, que consistia em um frame de 3 bytes que era continuamente enviado de uma estação para outra.

Quando uma máquina queria transmitir alguma informação, ela esperava a chegada do token, quando ele chegava, a estação sabia que podia transmitir, então enviava um pacote de dados à estação seguinte e logo em seguida um novo token. Se ela tivesse mais pacotes para enviar, esperaria a estação seguinte receber o token para só então enviar mais um novo pacote e assim sucessivamente. Isso melhorava consideravelmente o desempenho da rede.

Mas isso trazia uma lado negativo junto. Apesar de evitar as colisões, o token aumentava a latência das transmissões. Por conta disso, as redes Ethernet, mesmo com as colisões, conseguia ser mais rápida que as Token Ring na força bruta, já que elas transmitiam a 10 megabits.

Em 1989 a IBM aumentou a taxa de transmissão de seu padrão para 16 megabits, tornando-o significativamente mais rápido que as redes Ethernet. No entanto, depois da chegada do padrão 10BASE-T, que usava cabos de par trançado, as redes Token Ring foram perdendo espaço, já que era mais barato montar uma rede no novo padrão Ethernet. E com a introdução do padrão 100BASE-T que, além de usar cabos de par trançado transmitia a 100 megabits, o padrão da IBM rapidamente entrou em extinção.

Tanto é que hoje, muito pouco ouvimos falar de redes Token Ring ou mesmo ARCNET, se é que ouvimos falar! Desapareceram para nunca mais voltar! Na maioria dos casos, o padrão aberto prevalece em face dos proprietários. Foi assim com as redes, foi assim com os protocolos de transmissão, foi assim com o PC, mas claro, sempre há exceções.

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