Artigo por Carlos Pompeu, Gerente Executivo de Operações de Serviços Educacionais do Instituto Atlântico
A emergência da inteligência artificial na educação é uma fronteira tecnológica repleta de promessas e desafios, sobretudo em países com desigualdades culturais e econômicas, que demandam uma abordagem ética que vá além dos modelos importados. Um recente estudo do Instituto Atlântico contextualiza a governança ética da IA educacional, com o objetivo de se repensar as políticas públicas e práticas institucionais. Segundo a pesquisa, 86,5% dos frameworks de ética em IA são produzidos pelo eixo Europa-Estados Unidos, ante apenas 6% do Sul. Trata-se de um desequilíbrio, podendo resultar em reproduções tecnológicas que reforçam exclusões, em vez de promoverem justiça e inclusão.
A pesquisa revisou 23 estudos selecionados entre 267 documentos, envolvendo análises temáticas e de redes semânticas, sendo que a dimensão da inclusão foi a mais recorrente, presente em 69,6% das publicações, evidenciando que o foco em garantir acesso e participação equitativa é universal. Por outro lado, a sustentabilidade aparece subexplorada (47,8%), em uma lacuna frente às urgentes demandas ambientais e sociais globais. Outro dado relevante é que pesquisadores do Sul abordam, em média, mais dimensões éticas por estudo (3,5) do que o Norte Global (2,8), sinalizando uma visão mais holística e complexa dos pesquisadores locais.
O avanço rumo a uma IA responsável na educação brasileira depende de decisões políticas, investimentos em pesquisa e formação de governanças que, muito além de importar conceitos, desenvolvam e adaptem marcos éticos sintonizados com nossas dinâmicas. O risco de negligenciar essa contextualização é aumentar a dependência tecnológica externa e perpetuar um ciclo de exclusão e precarização educacional.
Dessa forma, a pesquisa do Instituto Atlântico não é apenas um avanço acadêmico – é um chamado para que o Brasil e os países do Sul Global assumam protagonismo na construção de um futuro ético e justo na aplicação da inteligência artificial na educação. Afinal, a inovação só é genuinamente transformadora quando dialoga com os valores locais e amplia o acesso e a qualidade da educação para todos, especialmente os mais vulneráveis.









