Caros leitores do Guia do PC, eu não sei se vocês já viram um filme chamado “Piratas do vale do Silício”. Para quem gosta de história da microinformática é um prato cheio, apesar de alguns exageros de Hollywood. Não vou contar o filme para não ser estraga prazeres, mas uma parte eu preciso contar para iniciar esta matéria. Logo depois de uma cena em que o Steve Jobs diz: “Bons artistas copiam. Grandes artistas roubam” (frase atribuída a Picasso), o filme mostra algumas invenções do PARC – Palo Alto Research Center da Xerox. Entre elas: o mouse e a interface gráfica!
Depois dessa pequena introdução vocês devem imaginar a minha emoção quando fui convidado, junto com um grupo de jornalistas do mundo todo, para uma visita ao PARC! Nesse tempo todo que escrevo sobre tecnologia – e já se vão 15 anos!, tive oportunidade de visitar o Bell Labs, o centro de pesquisas da IBM em Boca Raton (onde nasceu o IBM-PC), visitar a Comdex em Las Vegas, participar do IDF (Intel), do PDC da Microsoft, do Oracle Open World, etc, etc. A visita ao PARC, sem dúvida, entrou para minha coleção de sonhos realizados!
Batizado de “Inside Innovation at Xerox”, o evento começou com uma apresentação de Sophie Vandebroek, presidente do Xerox Innovation Group. Ela mostrou como está estruturado o PARC e as principais pesquisas em andamento. Hoje o PARC é uma empresa praticamente independente e seus produtos são as inovações tecnológicas que podem ser usadas pela Xerox ou licenciadas para terceiros.
Após a apresentação inicial, nos reunimos com o presidente do PARC, Mark Bernstein. Ele falou sobre as pesquisas desenvolvidas no PARC e respondeu a algumas perguntas feitas pelos jornalistas. Questionado sobre o efeito da provável recessão americana sobre os investimentos em pesquisa, respondeu: “Não faltará dinheiro para desenvolver boas idéias!”.
Depois os jornalistas foram divididos em grupos menores e puderam conhecer em detalhes algumas das pesquisas mais importantes que estão sendo desenvolvidas no PARC. Foram apresentados nove trabalhos de pesquisa. Em minha opinião, os mais interessantes foram:
Erasable Paper – Ou seja, “papel apagável”. De todas as pesquisas, essa foi a que mais chamou a minha atenção. A Xerox está muito empenhada em desenvolver o conceito de escritório sem papel. Porém, pesquisas mostram que os consumidores simplesmente “gostam” do papel. Dispositivos LCD para leitura de textos são caros e tem algumas desvantagens. O papel ainda vai “reinar” por muitos anos. Infelizmente, grande parte dos documentos impressos é utilizada uma vez apenas. Além disso, muitas informações são alteradas no mesmo dia em que foram impressas. Isso tudo gera um desperdício enorme de papel e consequentemente de energia, pois a energia usada para fabricar apenas uma folha de papel é equivalente à gasta por uma lâmpada de 60W ligada por uma hora (informação da Xerox). A solução proposta pelo PARC é o uso de um papel especial que “apaga” o que foi impresso nele depois de 24/36 horas. Na verdade a tecnologia toda está no papel. Não se usa tinta para imprimir e sim uma luz ultravioleta (UV) especial. Essa luz sensibiliza o papel e tem o mesmo efeito da tinta, ou seja, o papel fica negro onde a luz UV incide. De 24 a 36 horas depois, o papel fica “limpo” novamente e pode ser reutilizado várias vezes. A idéia é reduzir o gasto do papel ao invés de reduzir a sua utilização. Nessa fase da pesquisa já se consegue imprimir textos e gráficos com 150 dpi de resolução. No futuro teremos resoluções maiores e até a possibilidade de cores. Outras pesquisas estão sendo feitas para poder tornar a impressão permanente e também para criar uma caneta especial que permita a escrita à mão. O custo do papel apagável também não será problema, segundo a Xerox. Estima-se que ele custe de 2 a 3 vezes o preço de um papel comum.
Clean Tech at PARC – Tecnologias usadas nas instalações do PARC que geram energia “limpa” e não agridem o meio-ambiente. Foram mostrados dois exemplos: filtragem de água usando uma tecnologia de limpeza de cartuchos de “toner” das impressoras da Xerox e um novo modelo de gerador de energia solar usando uma tecnologia criada originalmente para as impressoras laser da Xerox. A vantagem do método de filtragem é que ele não necessita de filtro de membrana, pois usa a força centrífuga para realizar a filtragem. Já os novos geradores solares são muito mais eficientes que os disponíveis atualmente no mercado. Dentro de 3 ou 4 anos, a nova tecnologia dos geradores solares, batizada pelo PARC de SolFocus, deve custar o mesmo que a energia elétrica gerada por hidrelétricas.
Rare Cell Detection at PARC – Os pesquisadores do PARC criaram um dispositivo que permitem detectar células cancerosas ou indicadores de doenças genéticas em amostras de sangue com grande precisão. Mais uma vez, a base da pesquisa foi um produto da Xerox, no caso, um multifuncional que possui scanner. A grande vantagem é que o método é muito menos invasivo que os utilizados normalmente, pois não exige intervenção cirúrgica, apenas uma amostra de sangue.
Além destes, também foram mostrados trabalhos muito interessantes na parte de software, impressão customizada, visualização de documentos, etc. Para encerrar, ainda fomos visitar uma fábrica de impressoras coloridas da Xerox em Portland. Lá ficamos conhecendo um pouco mais sobre a tecnologia de tinta sólida da Xerox, que tem um custo benefício muito maior em relação às impressoras laser coloridas disponíveis no mercado. Pena que essas impressoras não são adequadas para usuários comuns, pois trabalham com grandes volumes de impressão e seu preço é relativamente alto para que elas possam competir no mercado doméstico.
A visita valeu muito. Pena que a agenda corrida não permitiu ver tudo o que desejávamos! Espero que vocês tenham gostado das novidades do PARC. Um grande abraço a todos!