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A Inteligência Artificial chegou ao Comércio Exterior: vou ficar sem emprego?

Artigo por Rafael Fabris, gerente de importação da C&A e embaixador da comunidade Comex Pulse Comm, e André Barros, CEO da eComex & D2P

A inteligência artificial (IA) vem desempenhando um papel cada vez mais relevante na transformação dos setores produtivos, atuando como uma ponte para novas possibilidades e ressignificando a relação entre pessoas e tecnologia, sobretudo quando falamos sobre o comércio exterior e o medo de muitos profissionais ficarem sem trabalho.

Em rápida evolução e cada vez mais acessível para o público geral, a IA também tem causado preocupações e incertezas quanto à garantia de empregos ao passo em que tem possibilitado a automatização de todo tipo de tarefas.

Neste contexto, é importante reforçar que um estudo realizado pela International Labour Organization (ILO) identificou que apenas cerca de 2,3% dos empregos globais (cerca de 75 milhões) estejam altamente expostos à automatização por IA generativa e devem desaparecer. Na verdade, essa tecnologia tende a promover uma evolução no perfil das funções, redirecionando o foco das atividades operacionais para uma atuação mais estratégica e colaborativa. Ou seja, empregos serão transformados e novos cargos serão criados.

No âmbito do comércio exterior, por exemplo, a tecnologia tem tido um papel essencial na modernização do setor. Um exemplo disso é a quantidade diária de documentos que precisam ser gerenciados e inseridos em sistemas e processos corretamente, tornando natural que profissionais altamente qualificados percam horas valiosas em suas rotinas para cumprir tais tarefas. Funções essas que os agentes digitais autônomos de Inteligência Artificial, por exemplo, poderiam executar, reduzindo de 60% a 70% o tempo dedicado somente à gestão e digitação de documentos.

Entretanto, para encarar esta nova realidade profissional é importante pensar na preparação das pessoas. Há uma distinção clara entre os desafios enfrentados por quem está ingressando agora no mercado e por aqueles que já atuam há mais tempo, especialmente em atividades mais manuais.

Profissionais mais experientes podem sentir as mudanças com maior intensidade, exigindo um esforço extra de adaptação. Assim, torna-se essencial que empresas comuniquem de forma clara as novas expectativas em relação aos seus colaboradores. A atuação estratégica, a otimização do tempo e o uso inteligente da informação passam a ser competências cada vez mais valorizadas. A evolução tecnológica também exige o desenvolvimento de novas habilidades, trazendo à tona a importância do desenvolvimento das chamadas “soft skills”. A capacidade de aprender continuamente, dominar ferramentas digitais, comunicar ideias com clareza e trabalhar de forma colaborativa são diferenciais relevantes.

Além disso, competências como storytelling e inteligência emocional ganham destaque à medida que o trabalho se torna mais interativo e orientado por dados. Nesse cenário, cabe a cada um de nós, profissionais de Comex ou não, buscarmos capacitações que nos preparem para lidar com as transformações trazidas pela IA.

Lembrando que é claro que as organizações possuem papel incentivador nesse contexto, mas a responsabilidade pela adaptação a este novo cenário é de cada um de nós.
Já os jovens que ingressam no mercado precisam cultivar uma mentalidade flexível, com foco em adaptabilidade, agilidade e entendimento dos objetivos organizacionais, além de desenvolverem também suas “soft skills” valorizando as relações humanas no ambiente de trabalho.

A liderança também ocupa uma posição estratégica nesse novo panorama. Com o suporte da inteligência artificial, espera-se que líderes adotem uma abordagem mais analítica e focada em decisões de longo prazo. A IA pode atuar como uma aliada na formulação e reavaliação de estratégias, ampliando a capacidade de análise e contribuindo para a definição de metas mais assertivas. A tecnologia tem o potencial de fortalecer os times ao disponibilizar dados qualificados que evidenciam o valor de cada área dentro da empresa.

O profissional do futuro será, portanto, um agente ativo na geração de insights estratégicos, com capacidade de transformar dados em decisões relevantes para o crescimento sustentável das organizações.

Então, respondendo à pergunta que não quer calar: quem conseguir se adaptar e evoluir para um patamar mais estratégico não perderá seu emprego. Afinal, o papel humano não está sendo substituído, mas sim ampliado — e a IA, quando bem implementada, é uma ferramenta poderosa para potencializar talentos e redefinir o que significa trabalho no século XXI.

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