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Tensão no Oriente Médio ameaça cadeias de suprimento e pressiona setor de tecnologia no Brasil

Análise por Victor Grinbaum, jornalista e escritor

O agravamento das tensões entre Irã e Israel, intensificado após ataques israelenses a alvos militares iranianos no início de junho, já provoca reações significativas nos mercados globais. E, embora o Brasil esteja geograficamente distante do epicentro do conflito, os efeitos colaterais rapidamente se espalham — e o setor de tecnologia é um dos primeiros a sentir os impactos.

Um dos principais vetores dessa pressão é o preço do petróleo. Com o temor de um confronto mais amplo envolvendo países da OPEP e o possível bloqueio do estreito de Ormuz — por onde passa cerca de 20% do petróleo comercializado no mundo — o barril disparou, ultrapassando os US$ 85 e podendo atingir picos de até US$ 150 em caso de prolongamento das hostilidades. Para empresas de tecnologia no Brasil, isso significa aumento nos custos operacionais, principalmente no que diz respeito a energia, logística e manutenção de infraestrutura, como data centers.

Além disso, a valorização do dólar frente ao real encarece ainda mais os componentes importados utilizados em produtos eletrônicos e equipamentos de rede. O Brasil, que ainda depende fortemente de insumos estrangeiros na área de semicondutores, servidores e dispositivos móveis, pode enfrentar gargalos logísticos e aumento de preços no varejo, comprometendo o consumo e os investimentos em digitalização.

Outro ponto de atenção é o impacto inflacionário global. Com commodities em alta e incerteza nos mercados, bancos centrais — inclusive o brasileiro — tendem a adotar uma postura mais conservadora, mantendo juros elevados por mais tempo. Isso reduz o apetite por risco e encarece o crédito, o que pode comprometer o crescimento de startups e projetos de inovação no país, principalmente os que dependem de rodadas de captação ou financiamento para escalar operações.

Mas, nem tudo são ameaças. Em meio à crise, também se abrem oportunidades. A busca por resiliência nas cadeias de suprimentos e pela redução da dependência de mercados instáveis pode incentivar investimentos locais em infraestrutura tecnológica. Data centers regionais, projetos de cloud soberana, soluções nacionais de software e redes mais independentes — inclusive com uso de tecnologias abertas — ganham força no debate estratégico de empresas e governos.

Além disso, soluções de automação, rastreamento via IoT e plataformas baseadas em inteligência artificial podem ser impulsionadas por um ambiente de maior incerteza logística. No setor de fintechs, por exemplo, o avanço de moedas digitais estáveis (stablecoins) e sistemas de pagamentos instantâneos robustos pode se intensificar como alternativa às oscilações cambiais e instabilidades no sistema financeiro internacional.

Em síntese, o conflito entre Irã e Israel não afeta apenas a geopolítica: ele redesenha o cenário econômico e pressiona cadeias de valor em todo o mundo. Para o Brasil, o impacto direto no setor de tecnologia é real — mas, se bem conduzido, esse momento também pode ser um gatilho para acelerar a transformação digital, fortalecer a indústria nacional e diversificar dependências estratégicas em um mundo cada vez mais volátil.

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