Pesquisas & Estudos

Pesquisa revela que 75% das empresas brasileiras ainda não possuem áreas dedicadas à diversidade

Junho, tradicionalmente marcado pelo Mês do Orgulho LGBTQIAPN+, reacende debates sobre diversidade nas organizações. No entanto, dados recentes mostram que ainda há um longo caminho a percorrer: segundo o estudo Panorama da Diversidade nas Organizações, da startup To.gather, três em cada quatro empresas brasileiras não possuem uma área estruturada de diversidade e inclusão.

A constatação levanta uma questão central: as ações das empresas são sustentadas por compromisso real ou apenas por oportunidades de marketing sazonal?

Para especialistas, a inclusão só gera impacto quando está integrada à estratégia de negócio — e algumas empresas vêm demonstrando como isso é possível.

Iniciativas que integram inclusão e resultados
A plataforma de serviços de marketing BPool criou o programa 50+1, voltado a estimular contratações de agências lideradas por mulheres, pessoas negras, profissionais LGBTQIAPN+ e pessoas com deficiência. A iniciativa também envolve parcerias com entidades como o Integrare, que certifica fornecedores diversos, garantindo transparência nos processos.

“O 50+1 conecta grandes marcas a parceiros que trazem perspectivas diversas para projetos de comunicação. Isso torna o mercado mais criativo, distribuído e inovador”, explica Simone Gasperin, sócia e head de Marketing da BPool.

Na Tecnofit, empresa de tecnologia voltada ao mercado fitness, o programa interno de Diversidade, Equidade e Inclusão surgiu de uma escuta ativa com os colaboradores. Hoje, 46% da equipe se identifica como parte da comunidade LGBTQIAPN+, e a empresa conta com apoio do Grupo Dignidade, ONG referência em formação e sensibilização sobre o tema.

“A inclusão vai além de políticas formais. Criamos espaços onde as pessoas se sentem realmente ouvidas, vistas e respeitadas”, destaca a equipe responsável pelo programa.

Marcas precisam ir além do “marketing de ocasião”
Para Luiz Menezes, fundador da consultoria Trope, que estuda os comportamentos das gerações Z e Alpha, muitas empresas ainda praticam o que ele chama de “diversidade circunstancial”.

“Quando é conveniente, elas se posicionam. Mas, diante de pressões externas ou de agendas conservadoras, recuam. As que seguem firmes, como Natura e Globo, mostram que a diversidade é um valor, não uma tendência”, afirma.

Pesquisa da Trope em parceria com a YOUPIX reforça esse comportamento do consumidor jovem: 55% da Geração Z se conecta com criadores de conteúdo alinhados a valores de diversidade e inclusão, e 4 em cada 5 já deixaram de comprar produtos por descobrirem práticas negativas de marcas.

Diversidade também é critério técnico
Na Zup, empresa de tecnologia do grupo Itaú Unibanco, a diversidade vai além da comunicação institucional e é tratada como um componente técnico essencial, especialmente em produtos que envolvem inteligência artificial.

“Precisamos incluir a diversidade nos dados que treinam nossos algoritmos, nos códigos e nas decisões automatizadas. É uma questão de responsabilidade social e de qualidade de produto”, afirma Isabella Fernandes, diretora de People da Zup.

Segundo ela, ter pessoas LGBTQIAPN+ nos times de produto, engenharia e dados é fundamental para mitigar vieses algorítmicos e garantir que a tecnologia represente de fato toda a sociedade.

À medida que a pressão por autenticidade cresce — impulsionada por consumidores mais atentos e exigentes —, empresas que tratam a inclusão como parte de sua estratégia central tendem a se destacar não apenas pela responsabilidade social, mas também pela capacidade de inovação, reputação e conexão com novos públicos.

A lição do Mês do Orgulho em 2025 é clara: diversidade precisa deixar de ser vitrine e virar prática constante, transversal e mensurável nas organizações.

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