Neste mês tive a oportunidade de participar do Oracle OpenWorld Latin America 2009, realizado aqui no Brasil na cidade de São Paulo. Acostumado a comparecer a eventos de empresas mais ligadas ao usuário final, confesso que me senti um pouco deslocado no encontro promovido pela Oracle. Na verdade a minha participação no Oracle OpenWorld (OOW) tinha um objetivo principal: tentar descobrir como a crise econômica está atingindo as grandes empresas no setor de informática. E nesse aspecto o OOW veio bem a calhar, já que a Oracle é maior empresa de software de negócios do mundo!
Na palestra de abertura, ficou bem claro que a palavra “crise” seria proibida. E todos os apresentadores bateram na mesma tecla: “Onde alguns enxergam crise, nós enxergamos oportunidade”. É claro que a gente sabe que isso é não é o que eles pensam! Em momentos de crise ninguém gasta dinheiro! Ora, a Oracle vende software para bancos, montadoras de automóveis, indústrias de petróleo etc. Se essas empresas estão em crise, é óbvio que indiretamente seus fornecedores serão afetados, inclusive os de software.
A melhor forma de sobreviver a esses tempos de crise é oferecer ao cliente as melhores soluções e as que geram mais renda e que reduzem os custos das empresas. Em seu discurso, Luiz Meisler – vice presidente da companhia para a América latina, tentou mostrar que é isso que a Oracle oferece. Usando uma série de gráficos (e de comparações com a concorrente SAP) afirmou que a Oracle tem os melhores produtos. Mas é óbvio que num evento da Oracle temos que “dar um desconto” para tudo que nos é apresentado. Gostei de saber que a empresa apoia padrões abertos, apesar disso ser quase uma obrigação hoje em dia! Nenhuma empresa que ficar “amarrada” a um único fornecedor de software (apesar de ser o sonho de todo fabricante de software)!
Em sua fala, Safra Catz – presidente mundial da Oracle, repetiu uma analogia feita uma vez por Larry Ellison: “Se vocês comprassem carros da mesma forma que as empresas compram software, comprariam um motor da BMW, rodas da Mercedes, câmbio da Porsche etc. Tudo seria entregue em sua casa e você chamaria especialistas para montar o carro”. Essa comparação mostra como são heterogêneos os ambientes de software em uma empresa. Os padrões abertos, como o XML por exemplo, ajudam mas não resolvem tudo. As apresentações procuraram mostrar como as soluções de software da Oracle interagem muito bem com as soluções da concorrência, apostando que essa é uma das diferenças que faz a empresa ser líder no segmento.
Mesmo com a crise batendo à porta, a Oracle afirma que não vai mudar o seu foco que é vender software de negócios para grandes empresas, mas admite que pode dar atenção também às médias empresas. O problema é atingir preços competitivos nesse mercado. Outro foco da companhia é o governo, afinal, em tempos de crise (olha a palavra proibida aí), esse pode ser um caminho para manter o crescimento das vendas.
Um dos lançamentos mais festejados do OOW foi o do HP/Oracle Exada Storage Server e do HP/Oracle Database Machine. Na verdade, os produtos foram lançados no final do ano passado (no OOW realizado nos EUA), mas estão chegando oficialmente ao Brasil agora em março. São máquinas pré-configuradas para rodas aplicativos Oracle destinados principalmente à área de “Data Warehouse”. Esses produtos representam a primeira incursão da Oracle na área de hardware. Na realidade, quem fabrica o hardware é a HP. A Oracle fornece o software e o sistema operacional (Linux). Segundo a companhia, os produtos estão sendo oferecidos ao mercado porque não existem soluções semelhantes com o mesmo desempenho na hora de lidar com aplicações do tipo “data warehouse” onde existe alto consumo de memória e disco. Em minha opinião, acho que pode ser uma aposta arriscada da Oracle. Parece um tipo de “venda casada”. Talvez fosse melhor “certificar” vários fabricantes de hardware diferentes para fornecer máquinas compatíveis com as aplicações data warehouse da empresa. Tenho certeza que existem hardwares capazes de rodar sem problemas as aplicações citadas. Do jeito que a coisa foi feita, a impressão que se tem é de favorecimento à HP.
Depois de dois dias de evento acho que consegui cumprir meu objetivo. É óbvio que a crise está atingindo todos os setores, inclusive o de software, não interessando se a empresa é líder ou não. Porém, a impressão que o encontro me passou foi de que, passado o “susto” inicial, pelo menos agora todo mundo está trabalhando para reverter esse quadro negativo. Espero que essa seja uma tendência daqui em diante. Tenho certeza que a indústria de informática, com sua capacidade de otimização, terá um papel importantíssimo na recuperação da economia mundial. Pelo menos eu estou torcendo para isso!