Análises

Ubuntu: Linux para seres humanos

A nova versão da distribuição Linux mais utilizada e conhecida no mundo chega aos usuários com algumas novidades. Uma das mais destacadas na mídia é a melhoria no tempo de boot: Matt Cutts conseguiu iniciar o Ubuntu 9.04 em 17,5 segundos, marca boa para uma distribuição Linux, principalmente para o Ubuntu, distribuição que preza pela praticidade – o que acaba acarretando em serviços automáticos no boot e consequente aumento na espera da inicialização do sistema. É claro que o teste foi realizado num computador top de linha com solid-state drives, mas como o que vale é a intenção, parece que a comunidade e o pessoal da Canonical conseguiram driblar o problema muito bem.

A distribuição

O Ubuntu é uma distribuição Linux que provê um sistema estável e atualizado para usuários finais, com foco em usabilidade e facilidade de instalação. Em 2007, foi eleita a mais popular das distribuições Linux, com aproximadamente 30% de participação nos computadores com o pinguim instalado. Neste mês, a distribuição já possuiria mais de 100 milhões de usuários, segundo a revista INFO.

Ubuntu

A distribuição possui novas versões a cada seis meses, todas com suporte por dezoito meses, provendo correções de falhas de segurança, patches para falhas críticas e pequenas atualizações nos programas. A cada dois anos é lançada uma versão LTS (do inglês Long Term Support), com suporte de três anos para desktops e cinco anos para servidores.

Além do Ubuntu, existem variantes oficiais da própria Canonical: o Kubuntu, para os que preferem o ambiente gráfico KDE; Xubuntu, para computadores mais modestos, com o ambiente gráfico Xfce; e o Edubuntu, que contém uma série de aplicativos voltados ao uso escolar.

Instalação descomplicada

O instalador do Ubuntu é um dos mais intuitivos, sem sombra de dúvidas. Não é tão completo como o do openSUSE ou do Mandriva, mesmo porque sua proposta não é esta. No entanto, é bastante fácil e não traz problemas para os usuários que estão iniciando no mundo do pinguim. Na forma de assistente, o instalador pergunta primeiramente o idioma que o usuário deseja utilizar no sistema e nos aplicativos. A segunda etapa é a configuração do fuso horário. O mapa dos fusos, inclusive, sofreu algumas reformas em relação a versão anterior: nada daqueles pontinhos chatos impossíveis de se clicar.

Seleção do fuso horário
Seleção do fuso horário

Após o fuso horário, vêm as configurações de teclado, com direito a sugestão automática; o particionador de disco, agora com suporte ao sistema de arquivos Ext4, que traz algumas vantagens em relação ao Ext3; o login automático (ou não) na inicialização do sistema e a migração de arquivos e configurações do Microsoft Windows. Basta pedir, e o Ubuntu importa suas configurações do Mozilla Firefox, seu wallpaper, documentos e até imagem de usuário. Em cerca de 20 minutos, dependendo do seu hardware, você tem um sistema completo, com cliente de e-mail, navegador decente, player de mídia e jogos para passar o tempo – do campo minado ao xadrez. Dificuldade de instalação não é, há um bom tempo, motivo para deixar de instalar o Ubuntu. E, para fazer testes, nem instalar é realmente necessário!

Facilitadores de tarefas

Por motivos legais, a Canonical não pode incluir softwares proprietários no Ubuntu. Um dos principais problemas disso é que usuários iniciantes poderiam ficar perdidos: abrem um arquivo de música em MP3 ou um vídeo em DivX, mas o player de mídia retorna alguma mensagem de erro. Felizmente, ao abrir um arquivo de formato proprietário no player de mídia padrão do Ubuntu e do GNOME, Totem, o usuário recebe recomendações sobre pacotes restritos que podem ser instalados para rodar o tal arquivo multimídia.

Codecs de MP3 e outros formatos proprietários
Codecs de MP3 e outros formatos proprietários

Outro problema são os drivers de vídeo proprietários. Lembro que, na época do Ubuntu 5.10, era necessário instalar os drivers da NVIDIA em modo texto, o que assustava bastante os iniciantes. Quando digo modo texto, estou falando do modo texto de verdade, com aquela “tela preta” – e somente ela.

Além disso, o usuário precisava editar o xorg.conf (arquivo de configuração do servidor gráfico) para que o sistema utilizasse o driver da NVIDIA, e não o driver opensource. Não raramente, esses procedimentos de receita de bolo resultavam em problemas, e era necessário restaurar o xorg.conf original. Hoje, o Ubuntu avisa quando existem hardwares no computador com driver proprietário disponível. Você clica num botão para habilitar o driver e reinicia o computador quando o Ubuntu pedir. E só precisa fazer isso.

Ativação de driver de vídeo proprietário da NVIDIA
Ativação de driver de vídeo proprietário da NVIDIA

Após a instalação do driver de vídeo proprietário, os efeitos gráficos serão automaticamente ativados na próxima inicialização do Ubuntu, caso sua placa de vídeo suporte, obviamente. Eles são bastante leves, de modo que uma placa gráfica onboard razoavelmente boa com 32 ou 64 MB de memória consegue rodá-los com perfeição.

As formas de instalação de programas

Algumas pessoas têm mania de dizer que instalar programas no Linux é difícil. Muitas vezes, essa afirmação não leva em consideração que Linux não Windows. A frustração começa a ocorrer quando o usuário que utilizou Windows por vários anos acessa um site de downloads, baixa um arquivo em .tar.gz e não sabe o que fazer com aquilo. Geralmente, os arquivos .tar.gz são apenas códigos-fontes que precisam ser compilados para serem instalados, o que não é nada fácil para quem ainda está começando.

Para os novatos, a ferramenta Adicionar/Remover do menu Aplicativos cumpre bem sua função, podendo ser configurado para exibir apenas aplicativos suportados pela Canonical, o que resulta em uma confiabilidade maior do sistema. Basta selecionar o programa (ou os programas) que deverão ser instalados e clicar em Aplicar mudanças. O resto, o Ubuntu faz para você. O único problema que encontrei no utilitário é a falta de internacionalização nas descrições dos programas.

Adicionar ou remover aplicativos
Adicionar ou remover aplicativos

É claro que esta não é a única forma. Para quem prefere fazer tudo de uma vez em um único lugar, instalando programas, jogos, codecs, temas, drivers, plugins e outros tipos de pacotes, o gerenciador de pacotes Synaptic, que veio do Conectiva (atual Mandriva) é uma boa pedida. Os repositórios do Ubuntu são bastante completos: são quase 30 mil pacotes e centenas de mirrors, alguns deles nacionais.

Gerenciador de pacotes Synaptic
Gerenciador de pacotes Synaptic

Para os usuários acostumados com o Windows, o Ubuntu vem com o Gdebi por padrão. Se você tiver um arquivo .deb, basta dar um duplo-clique nele e o Gdebi se encarregará de exibir informações sobre o pacote. Daí, basta clicar em Instalar Pacote e esperar o programa ser instalado, sem o famoso Next, Next, Finish. Esses pacotes podem ser baixados em sites específicos. Um que conheço e recomendo é o GetDeb.net.

Instalação de programas no estilo Windows, mas sem NNF
Instalação de programas no estilo Windows, mas sem NNF

Visual: pode não ser bom, mas pode ficar bom

Notificação do sistema
Notificação do sistema

O Ubuntu não inclui um tema matador, história que pode mudar com a versão 9.10. Apesar disso, a versão 9.04 vem com três temas novos: Dust, Dust Sand e New Wave. Infelizmente, esses temas não fogem muito do padrão Ubuntu, frustrante para quem espera por algo novo.

A tela de bootsplash foi alterada, bem como a tela de login. Tela esta que o usuário não visualizará caso tenha marcado a opção de login automático no ato da instalação. O sistema de notificações, que é utilizado quando, por exemplo, você aumenta o volume por meio de um teclado multimídia, ou uma música nova do Banshee é tocada, ou ainda quando algum contato no messenger envia uma mensagem, também foi alterado.

É claro que o fato de o Ubuntu não ter como ponto forte o visual não significa que você não o possa deixá-lo do seu gosto. O ambiente GNOME é extremamente personalizável, e o GNOME-Look ajuda muito aos que desejam personalizar suas áreas de trabalho.

Ubuntu 9.04 após algumas modificações
Ubuntu 9.04 após algumas modificações

Conclusão

O Ubuntu é uma daquelas distribuições que se destacam em relação às outras, sendo responsável por grande parte da atual popularidade do Linux, simplesmente porque faz jus ao slogan Linux para seres humanos. Eu, pessoalmente, recomendo a utilização para todos os usuários comuns – ou seja, aqueles que acessam sites na internet, ouvem músicas, assistem filmes, leem e-mails, conversam pelo messenger e, às vezes, fazem algum trabalho escolar.

A performance não é aquelas coisas, principalmente se formos considerar o Ubuntu como distribuição mais conhecida de um sistema operacional que se gaba de ressuscitar computadores antigos, mas no geral, é boa. Nada comparado ao irmão mais velho, Debian, mas também não é um elefante branco que utiliza toda a memória do computador para abrir um editor de texto. O boot, apesar de nada excepcional, é razoavelmente rápido para uma distribuição Linux deste nicho.

Outro ponto muito forte da distribuição é a comunidade, bastante ativa. Por esse motivo, você raramente encontrará um problema que não conseguirá resolver pesquisando no Google ou no fórum em português do Ubuntu. Aliás, já que você está aí, que tal dar uma passada no Fórum Guia do PC?

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Tags: Destaques, Linux, Windows

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