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Vazamentos de dados expõem fragilidades da educação e colocam informações sensíveis de alunos e colaboradores em risco

O setor educacional vem se consolidando como um dos principais alvos de ataques cibernéticos em todo o mundo — e o Brasil não escapa dessa tendência. De acordo com o Data Breach Investigations Report (DBIR) 2025, da Verizon, entre novembro de 2023 e outubro de 2024, instituições de ensino foram vítimas de 1.075 incidentes de segurança digital, sendo que 851 resultaram na exposição de dados sensíveis.

Segundo o relatório, 58% das violações atingiram dados pessoais de alunos, professores e colaboradores, enquanto 49% envolveram informações sigilosas, como pesquisas acadêmicas e documentos administrativos. A análise mostra que, apesar de um leve recuo em relação ao ano anterior, a ameaça segue em nível crítico, impulsionada pela transformação digital acelerada do setor.

Adriano Vallim

Ransomware e credenciais roubadas são principais vetores de ataque
Conforme explica Adriano Vallim, Head de Digital Forensics and Incident Response (DFIR) da Apura Cyber Intelligence, o vetor mais comum nas invasões continua sendo a intrusão em sistemas, responsável por 88% dos ataques mapeados. “A maioria dessas ações é promovida por grupos organizados com motivação financeira”, aponta o especialista.

As técnicas mais frequentes incluem malware (42%), hacking tradicional (36%) e ransomware (30%), com destaque para o uso de credenciais roubadas, presente em 24% das invasões. Além disso, 38% dos incidentes envolvem agentes internos, como administradores e usuários finais, enquanto 62% vêm de ameaças externas, especialmente ligadas ao crime organizado.

Casos recentes expõem o impacto direto na pesquisa e na saúde
O Brasil aparece com destaque na edição do relatório da Verizon, com dados coletados com apoio da Apura Cyber Intelligence. Só a América Latina respondeu por 657 incidentes e 413 vazamentos confirmados. Episódios como o ataque ao Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), em São Paulo, ilustram os riscos: em abril de 2024, a instituição teve de interromper suas operações por dez dias após um ataque de ransomware que criptografou arquivos e causou prejuízos estimados em R$ 2,5 milhões, afetando inclusive a produção de radiofármacos usados no tratamento de câncer.

Casos semelhantes atingiram centros como o CNPEM e a Unicamp, com paralisação de sistemas e vazamento de dados protegidos por sigilo. Para Vallim, o cenário evidencia que, mesmo com investimentos recentes, a segurança cibernética do setor educacional ainda é frágil e carece de ações coordenadas entre gestores, governo e órgãos reguladores.

Educação digital exige estratégia contínua de proteção
O avanço da digitalização na educação amplia a superfície de ataque e exige estratégias permanentes de proteção e conscientização, avalia Vallim. “A criatividade dos cibercriminosos cresce na mesma medida em que aumentam os recursos digitais do ensino e da pesquisa. Não basta manter os investimentos: é preciso reforçá-los continuamente”, conclui.

Especialistas apontam que a proteção de dados educacionais deve combinar tecnologias de prevenção, monitoramento e resposta a incidentes, bem como treinamento constante de equipes e políticas de governança de dados. Afinal, cada vazamento compromete não apenas a segurança de informações sensíveis, mas também a confiança de alunos, professores e da sociedade na integridade das instituições de ensino.

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