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BB Digital Week: O Futuro da Tecnologia é “Made in Brasil” e Mais Diverso 

Artigo por Maria Luiza Reis, DSc., conselheira da Associação Brasileira das Empresas de Software (ABES)

 Brasília se tornou, mais uma vez, o epicentro da inovação brasileira com a realização da quarta edição do BB Digital Week (BBDW), de 28 a 30 de outubro de 2025. Promovido pelo Banco do Brasil, o evento, que já se consolidou como um dos principais do país no setor, reuniu profissionais, estudantes e empreendedores em torno do tema “Tecnologia made in Brasil: o futuro é agora!”. 

Com uma programação repleta de palestras, debates e atrações como o DJ Alok, o BBDW cumpriu sua missão de celebrar o talento nacional e fomentar o espírito empreendedor.  

Dentro desse grande ecossistema de inovação, um palco em específico ganhou destaque pela sua relevância e propósito: o Women in Data Science (WiDS) Brasília. Integrado a um movimento global, o WiDS tem como objetivo central promover a participação feminina na ciência de dados e na tecnologia, criando uma comunidade de apoio para inspirar e educar mulheres na área. 

Foi nesse ambiente inspiador que tive a honra de mediar o primeiro painel do palco WiDS, intitulado “Mulheres + IA”, que contou com a presença de duas lideranças excepcionais: Marisa Reghini Ferreira Mattos, Vice-Presidente de Negócios Digitais e Tecnologia do Banco do Brasil, e Fabiana Schurhaus, Diretora de Vendas Técnicas da IBM. Ambas comandam equipes gigantescas e possuem vasta experiência em inteligência artificial.  

O consenso do debate foi claro: as mulheres ainda são minoria nas áreas de TI, mas a IA pode ser a chave para abrir portas e acelerar a equiparação de gênero no setor.  

Uma Jornada Pela Evolução da IA e do Pensamento Humano 
Para iniciar a discussão, contextualizei que, embora os algoritmos de IA existam comercialmente desde os anos 90, foi o lançamento do ChatGPT que democratizou seu uso, potencializado pelos três décadas de informação acumulada na internet. No entanto, salientei que o futuro da inteligência artificial não se restringirá aos atuais modelos de linguagem. O pensamento humano é infinitamente mais complexo, e algoritmos mais avançados precisarão explorar essas nuances.  

Essa reflexão vem de uma jornada pessoal. Há dois anos, busquei complementar minha formação tecnológica em engenharia nuclear e IA com um curso de introdução à psicologia social na Universidade de Queensland, Austrália. Meu objetivo era entender melhor a mecânica do pensamento humano para aplicá-la no desenvolvimento de novos algoritmos.  

E é aí que surge uma pergunta crucial: **considerando que as mulheres possuem uma estrutura de pensamento distinta da dos homens, será que uma nova forma de sistematização do raciocínio poderá emergir da mente das pesquisadoras de IA?** 

A IA como Oportunidade Estratégica para as Mulheres na Tecnologia 
Esta questão nos leva ao cerne da oportunidade. Este momento único da tecnologia, em que a IA ainda está moldando seu futuro, representa uma janela estratégica para o crescimento feminino no desenvolvimento de algoritmos. A diversidade cognitiva não é um jargão; é uma necessidade para criar sistemas de IA mais robustos, éticos e criativos. A inclusão de perspectivas femininas no núcleo do desenvolvimento pode levar a abordagens completamente novas para problemas complexos. 

O tema, como esperado, foi profundamente provocativo e engajou um auditório lotado, com cerca de 500 pessoas. Para minha grata surpresa, aproximadamente 30% do público era masculino, provando que a causa da equidade de gênero na tech é de todos. 

Uma das perguntas da plateia trouxe à tona um desafio familiar para muitas profissionais: o perfeccionismo e a síndrome do impostor. Como essas características, que muitas vezes fazem com que mulheres hesitem em buscar oportunidades, podem ser transformadas?  

Aqui, vislumbramos um cenário promissor. Com o apoio de assistentes de IA, o perfeccionismo feminino pode deixar de ser uma barreira para se tornar uma vantagem competitiva. Uma profissional pode usar a IA para agilizar a prototipagem de ideias e a análise de dados, mas, com o rigor típico de quem teme “falar besteira”, estará naturalmente mais propensa a verificar criticamente os resultados e a não aceitar passivamente as “alucinações” dos modelos de linguagem (LLMs). A IA oferece a velocidade, e a meticulosidade feminina garante a precisão e a confiabilidade. 

Conclusão: O Futuro é Agora, e é Plural
O painel “Mulheres + IA” no BB Digital Week foi mais do que um debate; foi um testemunho do poder transformador da diversidade. A tecnologia “made in Brasil” que queremos construir não será apenas nacional, mas também inclusiva. A inteligência artificial, essa ferramenta tão poderosa e maleável, não deve replicar os vieses do presente, mas sim pavimentar o caminho para um futuro mais equilibrado.  

A oportunidade está posta. Cabe agora à indústria, às instituições de ensino e à sociedade como um todo incentivar e apoiar que mais mentes femininas se debrucem sobre os algoritmos que definirão o amanhã. O futuro da tecnologia brasileira, impulsionado por eventos como o BBDW e iniciativas como o WiDS, será não apenas mais inteligente, mas também mais sábio e diverso. E, como vimos em Brasília, esse futuro já começou.  

Para saber mais sobre o movimento Women in Data Science, visite: https://wids.tec.br/brasilia.html 

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