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Decisões que movem o futuro: o desafio ético e técnico dos novos data centers no Brasil

O anúncio recente do governo federal sobre medidas para atrair grandes investimentos em data centers — com incentivos fiscais e estímulo à infraestrutura digital — recoloca o Brasil no centro das discussões sobre tecnologia, sustentabilidade e ética no uso da informação. A previsão é de que o país movimente cerca de US$ 2,95 bilhões em 2025, alcançando US$ 5,89 bilhões até 2030, segundo dados da consultoria Mordor Intelligence. Esse avanço representa não apenas um salto tecnológico, mas um desafio civilizatório.

Pedro de Medeiros

Para o engenheiro e filósofo Pedro de Medeiros, especialista em tomada de decisão e análise racional aplicada à liderança, cada novo data center é mais do que um marco da transformação digital. “Cada data center é um símbolo da nossa dependência crescente da informação e, ao mesmo tempo, um teste sobre como lidamos com energia, meio ambiente e decisões éticas em larga escala”, afirma.

O Brasil já figura entre os destinos mais promissores da América Latina para grandes operações de processamento de dados. Com sua matriz energética predominantemente renovável, posição estratégica e avanços regulatórios — como o projeto Drex, do Banco Central —, o país atrai gigantes da tecnologia que buscam infraestrutura robusta e eficiente. Contudo, o crescimento acelerado vem acompanhado de dilemas: o consumo de energia e água, a privacidade de dados e a governança das operações digitais.

Um estudo da CBRE aponta que a demanda global por centros “prontos para IA” cresce em ritmo recorde, impulsionada pelo avanço de ferramentas de inteligência artificial e pela necessidade de armazenar volumes massivos de dados. No Brasil, o governo estima que os novos investimentos possam superar R$ 2 trilhões nos próximos dez anos, colocando o país no mapa dos grandes players mundiais.

Mas, para Medeiros, a questão central vai além da infraestrutura. “A engenharia tem um papel central, mas não suficiente. É preciso um olhar filosófico sobre as consequências dessas decisões. O que estamos priorizando: eficiência, lucro ou legado?”, provoca.

Com formação em Engenharia Mecânica pela PUC e Filosofia pelo Mackenzie, Medeiros defende uma integração entre técnica e reflexão ética. Ele alerta que, em meio à corrida por inovação, é fácil perder de vista a responsabilidade. “A tecnologia é neutra. O que a torna benéfica ou destrutiva é o conjunto de decisões humanas que a sustentam. Por isso, precisamos de engenheiros que também saibam pensar filosoficamente, bem como líderes capazes de enxergar além da eficiência imediata”, complementa.

O desafio está em equilibrar o ritmo da modernização com a preservação dos recursos e o impacto social. Um levantamento do The Guardian mostrou que data centers instalados em regiões secas da América Latina já despertam preocupação com o uso intensivo de água — até 80% do volume retirado para resfriamento pode ser perdido por evaporação.

Pedro de Medeiros conduz o projeto Praticar o Pensar, que inclui um podcast diário e palestras voltadas à aplicação da filosofia na liderança e nas organizações. Em 2026, ele lança pela Alta Books o livro “Escolhas: Uma Visão Realista”, primeiro de uma trilogia sobre decisão, responsabilidade e contingência. “O futuro da engenharia e da tecnologia depende menos de máquinas inteligentes e mais de decisões humanas sábias. A verdadeira inovação começa quando razão e ética caminham juntas”, conclui.

Com os data centers se multiplicando e a inteligência artificial moldando novas formas de economia, o Brasil tem diante de si a chance de mostrar que avanço tecnológico e responsabilidade podem — e devem — coexistir.

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