Análise por Bruno Gomes, CEO da BTB Soluções
Em um curto espaço de tempo, a telefonia móvel se transformou, prometendo agora cidades inteligentes, realidade aumentada e redes ultrarrápidas. O 3G ficou para trás, o 4G se firmou como padrão, e o 5G começa a se estabelecer, enquanto o 6G já aparece como uma possibilidade futura.
Grandes empresas e governos prometem velocidades altíssimas, latência quase inexistente e integração com inteligência artificial e satélites.
Recentemente, as notícias sobre o 6G ganharam destaque. Fabricantes e operadoras anunciam estudos, testes e estimativas para o lançamento da nova geração de redes móveis por volta de 2030.
Diante desse cenário promissor, é fundamental questionar: estamos realmente preparados para o 6G se ainda não consolidamos o 5G? Quem realmente está se beneficiando dessa evolução tecnológica?
O panorama atual do 5G no Brasil
Desde o lançamento comercial em 2022, o 5G apresentou avanços significativos: já atinge cerca de 85% da população e possui mais de 40 milhões de aparelhos compatíveis, com previsão de alcançar 60 milhões até 2025.
Entretanto, o uso efetivo revela uma situação diferente. Segundo um estudo da OpenSignal, a disponibilidade real, ou seja, o tempo em que os usuários permanecem conectados ao 5G, é de apenas 13%. Além disso, mais de 100 milhões de dispositivos ainda operam exclusivamente no 4G, sem acesso à nova rede.
O desafio vai além da área de cobertura
Apesar da acessibilidade técnica, o 5G enfrenta obstáculos estruturais, econômicos e operacionais:
* Aparelhos incompatíveis: o custo dos dispositivos 5G ainda é elevado para grande parte da população;
* Infraestrutura concentrada: antenas e cobertura consistente estão limitadas às grandes cidades, criando áreas de sombra mesmo dentro de áreas cobertas;
* Adoção desigual: empresas e usuários ainda exploram pouco o potencial do 5G para automação, IoT e operações essenciais.
Situação semelhante na América Latina
A mesma situação se repete em outros países da América Latina. A infraestrutura se desenvolve, mas grande parte da população permanece desconectada ou com conexões precárias. Em áreas rurais, indígenas e periféricas, a realidade ainda é de sinal fraco, velocidades baixas e acesso limitado à informação digital.
Avanços que também impulsionam a inovação
Mesmo que a cobertura e o acesso ainda não sejam para todos, as novas gerações de rede já trazem impactos positivos concretos para empresas, indústrias e centros de pesquisa.
Com o 5G, setores como agronegócio, logística, saúde e manufatura começaram a adotar soluções de conectividade que aumentam a produtividade, reduzem custos e abrem caminho para inovações em tempo real, como carros autônomos, telemedicina e internet das coisas.
Em pesquisa e desenvolvimento, a rapidez e a latência mínima viabilizam novas formas de simulação, controle remoto de maquinário e análise de grandes dados, cruciais para a competitividade no mundo todo.
O Brasil já está se preparando para o 6G
O país está começando a trabalhar com o Programa Brasil 6G, coordenado pela RNP, Inatel e CPQD, estabelecendo um espaço de testes para a nova geração de redes, com previsão de lançamento por volta de 2030.
O 6G promete:
* Velocidade até 50 vezes superior ao 5G;
* Latência quase nula;
* Integração com satélites, internet das coisas e inteligência artificial;
* Aplicações avançadas em holografia, realidade estendida e ambientes imersivos.
Porém, antes de pensar no 6G, as empresas necessitam:
* Atualizar a infraestrutura e os aparelhos
* Desenvolver casos de uso que aumentem a produtividade e a segurança
* Considerar a conectividade como alicerce estratégico
Conectar é incluir
A tecnologia não cessa, e isso é excelente. Mas ela deve ser inclusiva. O verdadeiro progresso não reside apenas na velocidade das redes, mas na capacidade de unir todos nessa jornada de transformação.
Ainda assim, os benefícios para empresas, inovação e ciência já são claros. E demonstram o potencial transformador que teremos quando inclusão e infraestrutura avançarem juntas.







