Análises

Déficit de profissionais de TI pode chegar a 1 milhão até 2030 e ameaça a inovação no Brasil

Na última matéria do ano, o Guia do PC lança um olhar para um dos desafios mais estruturais do futuro digital do país: a escassez de profissionais de Tecnologia da Informação e seus impactos diretos na inovação, na competitividade e no crescimento econômico do Brasil.

Projeções da consultoria global McKinsey indicam que o país pode registrar um déficit de até 1 milhão de profissionais de TI até 2030, caso não haja mudanças relevantes na formação, capacitação e retenção de talentos no setor. O problema, que já afeta empresas de todos os portes, tende a se intensificar à medida que a digitalização avança em praticamente todos os segmentos da economia.

Dados da Brasscom mostram que o mercado brasileiro demanda cerca de 159 mil profissionais de tecnologia por ano, enquanto o sistema educacional forma apenas aproximadamente 53 mil novos especialistas anualmente. Esse descompasso gera um déficit anual superior a 100 mil profissionais e já acumula centenas de milhares de vagas não preenchidas, criando um gargalo que compromete projetos estratégicos e a capacidade de inovação das organizações.

Áreas críticas concentram a escassez
A lacuna é especialmente grave em áreas estratégicas para a transformação digital, como segurança da informação, inteligência artificial, ciência e engenharia de dados, computação em nuvem e desenvolvimento de software. Essas competências são fundamentais para sustentar iniciativas de automação, modernização de sistemas, uso intensivo de dados e adoção de novas tecnologias tanto no setor privado quanto no público.

Pesquisa da INTWIG Data Management reforça a dimensão do problema: apenas 10,9% das empresas brasileiras afirmam não ter dificuldades para contratar profissionais de TI, enquanto 43,7% relatam grandes obstáculos para encontrar talentos com habilidades digitais avançadas. A escassez deixou de ser pontual e passou a ser estrutural.

Impacto direto nos negócios
Na prática, a falta de profissionais qualificados afeta diretamente a operação das empresas. Projetos atrasam, custos aumentam e a capacidade de lançar novos produtos ou escalar soluções digitais fica comprometida. A disputa por talentos elevou salários e benefícios, com profissionais de tecnologia chegando a receber até três vezes a média salarial nacional, sem que isso seja suficiente para equilibrar oferta e demanda.

Outro ponto crítico é a concentração de profissionais em níveis iniciais de carreira, enquanto especialistas seniores seguem escassos. Essa “juniorização” do mercado limita a liderança técnica, o desenvolvimento de times e a maturidade dos projetos de inovação.

Para Rodrigo Maximo Cano, gerente de engenharia de software do banco digital Cora, o déficit de profissionais já representa um risco estratégico. “A falta de mão de obra qualificada em tecnologia impacta diretamente a capacidade das empresas de inovar, lançar produtos e escalar soluções digitais. Sem profissionais experientes, projetos estratégicos atrasam e o país perde competitividade em um mercado global cada vez mais tecnológico”, afirma.

Fuga de cérebros agrava o cenário
O problema é agravado pela fuga de cérebros, impulsionada pelo trabalho remoto global. Profissionais brasileiros altamente qualificados têm sido absorvidos por empresas estrangeiras ou optado por migrar para outros países, atraídos por salários em moeda forte, maior estabilidade econômica e melhores perspectivas de carreira. Soma-se a isso a evasão interna do setor, causada por sobrecarga, pressão constante e ausência de planos estruturados de desenvolvimento profissional.

Segundo Cano, o impacto vai além dos números. “O Brasil forma bons profissionais, mas não consegue retê-los. Quando talentos altamente capacitados optam por trabalhar para empresas estrangeiras ou deixam o setor por falta de perspectiva, o país perde conhecimento, capacidade de inovação e a chance de desenvolver soluções locais com impacto global”, avalia.

Um alerta para os próximos anos
Ao encerrar o ano com este tema, o Guia do PC destaca que o desafio não se resume a formar mais profissionais de TI. É necessário criar um ecossistema capaz de desenvolver, requalificar e reter talentos, com investimentos consistentes em educação técnica, capacitação contínua, diversidade e formação de lideranças.

Sem uma resposta coordenada entre empresas, governo e instituições de ensino, o déficit tende a se aprofundar ao longo da década. O risco é que a escassez de mão de obra se transforme em um dos principais freios à inovação brasileira justamente em um momento em que tecnologia e conhecimento são ativos estratégicos para o desenvolvimento do país.

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