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Pesquisa revela: empresas de tecnologia querem contratar, mas fecham portas para quem está começando

A pesquisa realizada pela Escola da Nuvem, Organização da Sociedade Civil (OSC) que acelera a evolução de pessoas e empresas por meio da educação tecnológica, sobre as expectativas das empresas, confirmou tendências positivas de contratação no setor de tecnologia, mas também expôs tensões entre discurso e prática na formação e acolhimento de novos talentos. Segundo a pesquisa, o perfil mais buscado continua sendo por profissionais plenos e seniores, o que acentua um paradoxo: sem a inserção de juniores hoje não haverá especialistas o suficiente para o futuro.

A dificuldade para encontrar talentos prontos, mencionada como desafio por 15,4% das empresas, convive com exigências incompatíveis com o início da carreira. As principais barreiras de contratação relatadas foram soft skills (30,8%), como comunicação, preparo para entrevistas e aderência cultural, base técnica (19,2%) e fragilidades nos fundamentos de TI, escassez de profissionais prontos na porta de entrada (15,4%), falta de conhecimento em inglês (11,5%) e modelo de trabalho (7,7%).

Entre as empresas de tecnologia ouvidas, 64% afirmam que pretendem contratar em 2025 em áreas como cloud, dados e inteligência artificial, desenvolvimento e infraestrutura e suporte. Porém, a maior parte prevê contratar em pequena escala, com até quinze vagas, o que reforça a necessidade de preparar muitos talentos de entrada para ocupar posições que, somadas, podem atingir centenas de oportunidades no ecossistema.

Os dados foram apresentados durante o Summit Talento Tech 2.0, evento que integra as comemorações dos cinco anos da instituição. Durante o painel “Futuro do Trabalho”, Roberta Piozzi, diretora de Parcerias e Projetos em Educação Executiva da Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais (Brasscom), reforçou que, embora a inteligência artificial esteja no centro das discussões sobre o futuro do trabalho, é preciso cautela e realismo. “Apesar do avanço acelerado das tecnologias, são as pessoas que fazem os negócios acontecerem. O desafio é equilibrar a empatia e o desenvolvimento humano com o uso estratégico das ferramentas, entendendo a inteligência artificial como meio para potencializar processos e não como um fim em si mesma”, afirma.

Para Ricardo Bonfá, fundador da Vuno, a eficiência extrema tende a privilegiar apenas os profissionais considerados os melhores, enquanto a inclusão depende da oferta de oportunidades para quem ainda está em desenvolvimento. “Veja o caso da computação em nuvem. Mesmo após anos de discussões sobre o tema, ainda há quem não compreenda plenamente seu potencial, o que também acontece agora com a inteligência artificial. Apesar do entusiasmo e dos casos iniciais de uso, ainda estamos aprendendo a operar essa tecnologia, e esse processo deve levar anos”, explica. “Líderes e empresários devem assumir o risco de dar oportunidades para quem está começando e precisam encontrar um caminho que minimize o impacto no lucro e na rentabilidade”.

Jéssica Monteiro, Head de Projetos e Crescimento da MovTech, destacou que as vagas juniores, voltadas para quem está iniciando a carreira, além de serem uma alternativa mais viável do ponto de vista financeiro, permitem que as organizações formem profissionais alinhados à sua cultura e construam trajetórias de carreira mais longas internamente. “A inteligência artificial pode acelerar o aprendizado de quem está começando na área, encurtando a curva de desenvolvimento desses novos talentos”.

Um exemplo prático citado no painel foi o da Accenture. Tatiana Kocerginski, Corporate Citizenship Executive da Accenture no Brasil, mencionou a inclusão de jovens em início de carreira. A empresa mantém uma jornada estruturada de formação em tecnologia, habilidades comportamentais e letramento digital, agora incorporando também inteligência artificial generativa e mentorias. Segundo ela, já foram mais de dez mil jovens formados, dos quais oitocentos foram contratados pela própria Accenture. “O impacto é positivo para todos os lados. Os jovens ganham oportunidade, a sociedade se beneficia e a empresa se torna mais diversa, inovadora e plural”, afirma. A executiva ressaltou que a presença desses profissionais traz perspectivas e contribuições que muitas vezes nem os líderes nem os jovens imaginavam antes dessa conexão.

O evento também contou com a apresentação de projetos e o anúncio do programa “Apadrinhe um Talento”, que permitirá que empresas e pessoas físicas financiem a formação de jovens em situação de vulnerabilidade. O encontro promoveu networking, conexões entre talentos e organizações e encerrou com um jantar de confraternização e premiação de empresas parceiras.

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