Há certas coisas que só acontecem no Brasil. Por exemplo, a tarifação excessiva em cima de chamadas para operadoras diferentes da sua. Você com certeza sabe como funciona e, muito provavelmente, já deve ter passado por isso. Suponhamos que você seja cliente da TIM e queira, por exemplo, ligar para alguém que usa Claro. O custo da ligação será bem elevado. No entanto, se você ligar para alguém que também use TIM, o custo da tarifa já cai consideravelmente, chegando a ser “gratuito” dependendo do plano. Nos Estados Unidos e Canadá, por exemplo, não existe essa distinção entre chamadas para a mesma operadora e chamadas para operadoras diferentes. Lá tudo custa a mesma coisa.
Isso acontece porque existe uma taxa chamada de “Tarifa de Interconexão” (VU-M), que foi criada lá na época das privatizações (obrigado, Sr. Fernando Collor de Mello!). Ela tinha como objetivo alavancar as operadoras da época. E deu certo. No ano passado, elas arrecadaram nada mais nada menos que R$ 20 bilhões! Agora você entende por que as empresas de telefonia não querem abrir mão dessa tarifa, né? Mas isso está prestes a mudar. A Anatel pretende adotar uma medida que vai baratear essa tarifa de interconexão em cerca de 60%. Se for possível, ela deixará até de existir. Eu acho muito difícil, mas não custa nada sonhar, né? O barateamento dessa taxa trará dois benefícios, além das óbvias ligações mais baratas. Primeiro, acabará com o “efeito clube”. Segundo, aumentará a concorrência.
O que é este “efeito clube”? Visto que as chamadas entre a mesma operadora são mais baratas as pessoas procuram adquirir, obviamente, chips que a maioria dos seus amigos e parentes usa. Por exemplo, aqui na minha cidade, há poucos anos, a Oi dominava com folga. Então todo mundo tinha Oi. Depois a TIM chegou com essas promoções bem tentadoras e muita gente agora migrou para a TIM. É como se formassem um clube. Então você é quase que obrigado a comprar celulares daquela operadora, mesmo que outras ofereçam serviços melhores. O “efeito clube” é tão grande que a Anatel estima que cerca de 80% das ligações são feitas para a mesma operadora. E isso acaba com a concorrência.
Com a tarifa de interconexão mais barata, as operadoras agora teriam de brigar para oferecer melhores serviços: melhor qualidade do sinal, maior cobertura, planos mais baratos, aparelhos com descontos especiais e por aí vai. Assim, dessa forma, nós poderíamos ter um serviço de telefonia móvel decente, por que como está agora, é uma lástima incrível! Concorrência sempre, sempre é bom! Na verdade, a Anatel já tenta reduzir essa tarifa há uma década! No entanto, a influência das operadoras era muito forte. Agora, como a agência reguladora tem apoio do governo federal, há grandes chances desse plano sair do papel e nós termos um serviço de qualidade.
Essa discussão entrará em pauta na Agência em um mês. Vamos torcer para que dê tudo certo e em breve a gente tenha um serviço mais justo. E você, o que acha de tudo isso?
Com informações: Folha de S. Paulo
