Na coluna de hoje vamos falar um pouco sobre uma das grandes “manias” das desenvolvedoras de jogos nos últimos meses: Desenvolver para os consoles (Xbox 360 e PS3), e depois, criar um port para o PC. Nas últimas semanas vimos um exemplo: GTA IV, que foi primeiramente lançado aos consoles, e nos últimos meses portado para o PC.
Antes de começarmos a falar de ports, temos que explicar o que são ports, não é mesmo?
Port é uma palavra que deriva de portabilidade, que na informática tem um significado muito parecido com o de compatibilidade, já que algo “portável” é algo que pode rodar em várias arquiteturas, e SO(s) diferentes. Portanto quando falamos que algo será “portado para o PC” queremos dizer que as libraries utilizadas serão alteradas, de forma com que seja criada a compatibilidade com o PC.
Um bom exemplo para explicar isso é um jogo para PlayStation 3, que usa como API para desenvolvimento gráfico uma versão modificada do OpenGL ES, versão do OpenGL para embedded systems, esta API não está disponível no PC, portanto é impossível rodar o mesmo jogo nos dois sistemas, para isso se cria um port, ou seja, são feitas alterações no código fazendo com que o executável utilize funções da biblioteca OpenGL desenvolvida para o PC.
Outro exemplo é a compatibilidade dos jogos no Linux. A maioria deles utiliza o Direct3D, API da Microsoft para desenvolvimento de aplicações 3D, por ser da Microsoft, o Direct3D faz intenso uso de funções presentes na WinAPI, que é exclusiva do Windows, tornando a compatibilidade com outros sistemas operacionais impossível. O OpenGL, por outro lado, permite a compatibilidade entre diversos sistemas operacionais, mas, infelizmente, devido a “falta de padrão” no desenvolvimento, existem várias implementações da biblioteca, criando um certo trabalho na hora de desenvolver um jogo multiplataforma, o que prejudica o crescimento da quantidade de jogos para Linux.
Após esta breve explicação sobre portabilidade, podemos partir para alguns comentários sobre os últimos ports para PC, e outros jogos, feitos primeiramente para o PC, e depois portados para os consoles. Apenas para facilitar o entendimento desta coluna, gostaria de informar que quando eu citar PC aqui, eu estarei me referindo ao Windows, já que este domina o mercado de jogos, e o mercado inteiro, mas enfim, isto é assunto pra outra seção do Guia…
GTA IV é talvez o jogo que trouxe maior visibilidade para este aspecto. Após ser lançado para os consoles, em abril deste ano, o jogo foi lançado para o PC, no começo deste mês. Mesmo trazendo uma verdadeira “muralha” anti-pirataria, o jogo foi massivamente pirateado, e não atingiu um alto número de vendas, diferentemente do que ocorreu com a versão para consoles. Talvez um dos motivos para isso não tenha sido apenas a plataforma, que é duramente criticada por facilitar a pirataria, mas sim a péssima qualidade do port, que veio recheado de bugs, a maioria deles são problemas de desenvolvimento, como os problemas com sombras e iluminação, porém alguns mostram o nível de qualidade do port, já que trazer um controle de Xbox 360 na tela de seleção de controles é algo extremamente comum entre os jogos para PC, da mesma porta que apertar o botão Xbox Guide para abrir o dito “Guide” no PC.

Gears of War mostra o outro lado da portabilidade, apesar de o jogo ter sido primeiramente produzido para o Xbox 360, a empresa responsável pelo port, a People Can Fly, fez um trabalho digno de prêmios, produzindo um jogo praticamente bug-free. Belos gráficos, cover-system completamente funcional e controles bem adaptados e tudo isso rodando de forma mais fluída que nos consoles, sem quedas bruscas no frame rate. Não sei se foi um bom trabalho da empresa, ou um exemplo da qualidade da Unreal Engine 3, que funciona em todos os consoles de nova geração e no PC, mas eu creio que tenha sido um ótimo trabalho da empresa, já que a R.A.G.E., engine de GTA IV, também prega uma compatibilidade com os consoles de nova geração e o PC, apesar de o nível de qualidade da compatibilidade não ser especificado, provalvelmente se fosse, seria algo como “quase compatível”.
Assassin’s Creed também pode ser citado entre os bons ports, a qualidade visual do jogo no PC é excelente, e além disso tudo, existem missões extras e até uma versão limitada disponível para venda.
A Valve Software é conhecida por sua imensa preferência pelo PC, produzindo inclusive jogos PC-exclusive, que depois são portados para o console, geralmente pela própria EA Games, a segunda maior empresa de games do mundo, que põe a mão na massa para executar esse trabalho. Gabe Newell, CEO da Valve, chegou a comentar que desenvolver para o PS3 é pura perda de tempo e dinheiro, eu concordo plenamente, os jogos da Valve provam isso. Left 4 Dead foi o último exemplo, produzido para PC, o jogo trás belos gráficos, uma excelente IA, e muitos zumbis. Durante a produção, a Valve decidiu lançar o mesmo jogo para o Xbox 360, o resultado? Mais uma vez a Valve atingiu seu objetivo: produziu um jogo com excelente qualidade, e muitas vendas.
Além de todos os problemas já citados, produzir para os consoles tem mais um empecilho. Produzir para o PlayStation 3 é extremamente caro, sendo necessária a aquisão de um SDK diretamente da Sony, o que torna inviável a produção de jogos por companhias menores. No Xbox 360 temos o XNA, plataforma criada pela Microsoft para desenvolvimento de jogos para Windows ou Xbox 360 utilizando os recursos do famoso .NET Framework. Tudo isso tem um preço: performance. O que torna possível apenas o desenvolvimento de jogos “casuais”, distribuídos através da Live Arcade. Desenvolver jogos AAA para o Xbox 360 também é caro. Já no PC…. Você pode desenvolver um jogo de altíssima qualidade utilizando apenas seu tempo e a luz elétrica, já que existem alternativas opensource que permitem o desenvolvimento destes jogos.
No final das contas chegamos a uma conclusão: Portar para PC vale a pena, desde que o port seja feito com qualidade. Agora se a empresa tem como objetivo apenas um jogo “funcional”, chegamos à conclusão de que não vale a pena nem gastar dinheiro. O prejuízo é certo.