O IEEE (Instituto dos Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos) apresentou nesta terça-feira (4) à imprensa os resultados da pesquisa “O Impacto da Tecnologia em 2026 e Além”, estudo global que ouviu 400 líderes de tecnologia no Brasil, China, Índia, Japão, Reino Unido e Estados Unidos. A coletiva contou com especialistas brasileiros que analisaram os achados do levantamento, o qual prevê que a inteligência artificial agêntica — sistemas capazes de definir metas, planejar e executar tarefas com mínima intervenção humana — chegará ao mercado de consumo em massa já em 2026, marcando o início de uma nova fase de automação inteligente e assistentes autônomos. Participaram da coletiva Juan Galindo (VITA Tecnologia para a Vida e Fundação Hermínio Ometto), Suélia Fleury (UnB e Cornell University), Vanessa Schramm (UFCG) e Camilo Girardelli, arquiteto de software e membro do IEEE.
De acordo com o estudo, 60% dos líderes brasileiros acreditam que a IA agêntica será amplamente adotada em 2026, impulsionando o surgimento de assistentes inteligentes em atividades cotidianas, como organização de agenda, controle de privacidade e monitoramento de saúde. “Estamos passando de um modelo em que a IA apenas responde a comandos para outro em que ela age, decide e aprende. Essa é uma virada de paradigma no modo como interagimos com a tecnologia”, destacou Juan Galindo, que também enfatizou o papel crescente de robôs humanoides, realidade aumentada e veículos autônomos como fronteiras do uso da IA. O especialista lembrou ainda que 40% dos líderes brasileiros esperam implantar robôs humanoides em suas empresas até 2026 — o que, segundo ele, “reforça a chegada da IA ao mundo físico e a necessidade de preparar um ecossistema tecnológico e regulatório sólido”.
A professora Vanessa Schramm chamou atenção para o fato de que, no Brasil, os setores mais impactados pela IA serão desenvolvimento de software (60%), serviços financeiros e mídia e entretenimento (48%), seguidos por educação e saúde (28%). Ela destacou que essa transformação exigirá tanto mão de obra qualificada para desenvolver aplicações quanto capacitação da população para o uso consciente das novas ferramentas. “As operações de serviço baseadas em IA envolvem o consumidor diretamente na jornada. Isso exige um usuário digitalmente alfabetizado e políticas públicas que combatam o analfabetismo digital desde a base educacional”, afirmou. Vanessa também alertou para o “esvaziamento dos cursos de tecnologia” no país, o que, segundo ela, cria um descompasso entre a expansão da IA e a formação de profissionais para suprir a demanda. “É urgente que governo, mercado e academia atuem juntos para atrair e reter talentos na área de TI”, concluiu.
A pesquisadora Suélia Fleury, pós-doutora pelo MIT e docente na Cornell University, ressaltou o impacto da IA agêntica na saúde e na educação — dois setores citados por 28% dos entrevistados brasileiros. Ela destacou o papel crescente dos gêmeos digitais (simulações virtuais de sistemas biológicos ou industriais) na substituição de testes em animais e na aceleração de pesquisas clínicas. “Com o uso de gêmeos digitais e simulações, conseguimos reduzir custos e riscos em ensaios clínicos. A FDA e a Anvisa já começam a criar trilhas regulatórias específicas para essas aplicações”, explicou. Suélia também defendeu a necessidade de revisão curricular nas universidades e de políticas de investimento em infraestrutura hospitalar e de dados, destacando que 46% dos líderes globais acreditam que a infraestrutura necessária para o avanço da IA levará de três a quatro anos para ser construída. “Precisamos de universidades e hospitais preparados para processar dados, treinar algoritmos e integrar IA aos serviços públicos de saúde. É um passo essencial para o Brasil competir globalmente”, afirmou.
A pesquisa mostra que 58% dos executivos brasileiros buscam profissionais com habilidades de análise de dados, 54% com práticas éticas em IA e 32% em modelagem de dados. “A próxima corrida profissional será por analistas de dados. A IA vai gerar volumes gigantes de informação e será preciso interpretar, validar e garantir a transparência desses resultados”, explicou Camilo Girardelli, que destacou ainda o protagonismo brasileiro no cenário internacional: “O Brasil está à frente de muitos países pesquisados em termos de abertura para inovação e uso prático da IA. Mas precisamos equilibrar isso com políticas de energia e sustentabilidade, já que o treinamento de modelos consome grandes quantidades de recursos.”
Embora “ética” tenha sido apontada como competência essencial para o futuro da IA, Vanessa Schramm observou que o tema só apareceu entre os principais desafios nos Estados Unidos, o que sugere uma percepção desigual entre as regiões. “Há uma tendência de as empresas transferirem a responsabilidade ética para o Estado. Mas é papel conjunto do governo, da academia e do setor privado garantir que o uso da IA seja seguro, transparente e socialmente justo”, afirmou.
Os especialistas convergiram na visão de que a IA agêntica desencadeará uma revolução produtiva e comportamental. Para Camilo Girardelli, a transformação não se limitará à automação de processos, mas envolverá a reconfiguração completa da vida profissional e cotidiana até 2031. “Dentro de cinco anos, teremos uma nova forma de trabalhar, aprender e decidir. A IA estará integrada a todos os níveis — do smartphone ao sistema de transporte urbano. Quem não acompanhar essa transição, seja pessoa, empresa ou país, ficará para trás”, concluiu Juan Galindo.
O relatório “O Impacto da Tecnologia em 2026 e Além” foi conduzido pelo IEEE entre 11 e 17 de setembro de 2025, ouvindo CIOs, CTOs e diretores de TI de organizações com mais de 1.000 funcionários em diversos setores — de finanças e saúde a energia, governo e telecomunicações. O estudo completo pode ser consultado em: https://transmitter.ieee.org/iot-2026.









