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Tensão com desigualdade de renda cresce no mundo — e o Brasil está entre os países mais pessimistas, aponta Ipsos

A desigualdade de renda voltou ao centro do debate global e aparece como uma das tendências mais preocupantes da edição 2025 do Ipsos Global Trends, estudo que ouviu mais de 33 mil pessoas em 43 países — incluindo mil brasileiros. O levantamento mostra que a percepção de injustiça econômica atinge níveis recordes: 78% das pessoas acreditam que as disparidades de renda são prejudiciais para a sociedade. No Brasil, esse índice chega a 84%.

A pesquisa entrevistou 33.083 pessoas entre 23 de maio e 6 de junho de 2025, em 43 países. No Brasil, foram ouvidos cerca de 1.000 adultos. A margem de credibilidade é de +/- 3,5 p.p. O estudo completo pode ser acessado em https://resources.ipsos.com/DownloadIpsosGlobalTrends9thEdition.html.

A pesquisa revela que a riqueza concentrada cresce em ritmo acelerado — três vezes mais rápido em comparação ao ano anterior — e que o mundo deve ver seu primeiro trilionário nos próximos anos. Esse cenário alimenta a sensação de que os sistemas econômicos não funcionam para a maioria. Globalmente, 71% dizem que a economia de seus países favorece apenas os ricos e poderosos; no Brasil, o percentual sobe para 79%.

O sentimento de orgulho nacional também perdeu força entre os brasileiros: caiu para 66%, movimento contrário ao de outros países da América Latina, onde a média de satisfação subiu para 72%.

“A desigualdade continua ampliando divisões profundas. O contraste entre pobreza injusta e riqueza extrema fragiliza estruturas tradicionais e cria espaço para novas ideologias e tensões sociais”, analisa Marcos Calliari, CEO da Ipsos no Brasil.

Empresas sob pressão: lucro não basta
A crítica à desigualdade se estende ao setor privado. Para 85% dos brasileiros, as empresas têm obrigação de contribuir para a sociedade, não apenas lucrar. O índice é ainda maior entre os mais jovens (88%) e os mais velhos (89%). A confiança na palavra dos líderes corporativos, porém, caiu drasticamente: apenas 37% acreditam que executivos dizem a verdade — uma queda de 8 pontos percentuais em um ano.

Brasil registra maior resistência à imigração na série histórica
Entre as formas de divisão social monitoradas pela pesquisa, a imigração é a que mostra as mudanças mais acentuadas. Em 2025, 73% dos brasileiros afirmam que há imigrantes demais no país — alta de 6 pontos em relação ao ano anterior. A percepção é mais forte entre mulheres (76%), adultos de 35 a 44 anos (81%), pessoas de baixa renda (75%) e baixo nível escolar (84%).

Apesar disso, 61% dos brasileiros reconhecem que a imigração traz impactos positivos para a sociedade, acima da média global (45%). Calliari ressalta, porém, que parte dos entrevistados associa “imigrantes” às ondas migratórias históricas dos séculos 19 e 20, o que pode distorcer a percepção sobre o tema.

Globalização ainda é bem vista — mas perde apoio entre grupos específicos
Embora 75% dos brasileiros considerem a globalização benéfica, o índice recua entre jovens, pessoas de baixa renda e baixa escolaridade. Na América Latina, a aprovação cai para 69%, refletindo incertezas econômicas, tensões geopolíticas e os impactos da política comercial dos EUA nos últimos anos.

Conflitos familiares por valores crescem no Brasil
Sob a tendência chamada “Sociedades Fragmentadas”, o estudo aponta um aumento preocupante de conflitos familiares motivados por diferenças de valores. No Brasil, 61% dos entrevistados afirmam enfrentar esse problema — avanço de 3 pontos percentuais em relação ao ano anterior. O país é o 4º do mundo onde mais se relatam conflitos desse tipo, atrás apenas de Emirados Árabes, Índia e África do Sul.

As tensões são mais evidentes entre homens (63%), pessoas de 35 a 44 anos (67%), de baixa renda (70%) e de menor escolaridade (71%).

As nove grandes tendências globais
Além de desigualdade e fragmentação social, o estudo mapeia outras tendências que moldam o humor global:

  • Convergência Climática
  • Deslumbramento Tecnológico
  • Saúde Consciente
  • Retorno aos Modelos Antigos
  • Novo Niilismo
  • Fuga para o Individualismo
  • O Poder da Confiança
  • Metodologia:

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