A novela do iPad nacional finalmente teve um fim. Fabricado pela Foxconn de Jundiaí, estado de São Paulo, o tablet da Apple chegou às lojas, após muitas especulações e boatos.
Mas o que era para ser comemoração veio como uma grande decepção e até revolta dos consumidores. A polêmica desde seu lançamento dá-se pelo preço praticado. O valor continua o mesmo da versão importada, fabricada pela Foxconn de Shenzhen, China: R$1549,00 em sua versão básica, sem 3G e com 16GB de armazenamento, ou R$2299,00, com 3G e 64GB de SSD.
Tablet da Apple sendo fabricado no Brasil não tem custo de importação, que quase dobra o valor de produtos. Além disso, o tablet da empresa da maçã tem grande benefício estratégico, pois a Foxconn já está estabelecida no Brasil e tem como parceira a EBX, empresa de Eike Batista, e o Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES). Juntos, somente os dois, disponibilizaram quase 2 bilhões em investimentos, possibilitando ainda empréstimos com juros abaixo do mercado.
Já não bastasse os benefícios comuns em uma empreitada no Brasil, Apple e Foxconn contaram com a “Lei do Bem”. A Medida Provisória número 534/2011 dá desoneração fiscal para empresas que produzirem seus produtos no país, definindo seus requisitos em conjunto com as diretrizes do Processo de Produção Básico (PPB), conforme a Lei nº 8387/91. A MP estabelece uma contrapartida para ganhar benefícios, e a Foxconn, junto com outras dezenas de empresas como Samsung, Motorola e Semp Toshiba, requisitaram e ganharam os incentivos fiscais.
Ano passado, a ABINEE, Associação Brasileira da Industria Elétrica e Eletrônica, já falava em um iPad custando menos de mil Reais, se fossem concedidos os mesmos benefícios dos PCs. Com a Medida Provisória, definindo incentivos semelhantes ao equipamentos de mesa ou seja, tendo redução de IPI e desoneração de PIS e COFINS, esperava-se uma redução de mais de 35% no preço dos tablets.
A Apple não explicou o motivo da manutenção do preço, no entanto dois fatores podem ter influenciados, o “custo Brasil” e a demanda. O primeiro tem relação com o processo de fabricação, como custo de logística num país com transporte deficiente, e a mão-de-obra desqualificada e mais cara que a chinesa. O outro fator, está diretamente ligado à demanda, à procura. Por conta da demanda, o preço dificilmente irá baixar. O sucesso do iPad no Brasil contribui para a manutenção do preço, como declarou Virgílio Almeida, secretário de Políticas de Informática do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. O resultado são incentivos fiscais concedidos mas a manutenção do preço.
Agora o que esperamos é que o preço diminua, como deve ser, e que outros tablets faça finalmente concorrência com o iPad, que domina com folga o mercado. Além de torcer muito para o que aconteceu na indústria automobilística brasileira, onde mesmo com concorrência as empresas no Brasil tem margens de lucro três vezes maior que o resto do mundo, fazendo o brasileiro pagar o carro mais caro do planeta, não acometa o segmento de tablets.
[G1]