Em nota divulgada nesta quarta-feira (31), a Associação Brasileira das Empresas de Software (ABES) manifestou preocupação com as novas tarifas impostas pelos Estados Unidos a centenas de produtos brasileiros. Embora o setor de software e serviços de tecnologia da informação não esteja diretamente listado nas medidas, a entidade destaca que os efeitos colaterais do chamado “tarifaço” podem comprometer investimentos em inovação, afetar clientes de diversos setores e, consequentemente, abalar o ecossistema de tecnologia do país.
Segundo a ABES, o setor de TI possui uma “penetração horizontal” na economia, atendendo desde pequenos negócios até grandes indústrias e bancos. “Indústrias altamente dependentes de exportações, como as de carnes, café, soja e manufatura em geral, tendem a sofrer severamente com as sobretaxas, o que levará à redução de receitas e investimentos”, afirma a associação na nota. Esse efeito em cadeia pode travar avanços em áreas estratégicas, como inteligência artificial, automação e transformação digital — consideradas janelas de oportunidade para o aumento da competitividade global do Brasil.
O posicionamento oficial da entidade ressalta ainda o risco de um ambiente de negócios instável, com retração de investimentos e menor capacidade de inovação, especialmente entre micro e pequenas empresas — que representam a maioria dos associados da ABES. Para evitar um cenário de “perde-perde” nas relações bilaterais, a associação defende enfaticamente a via diplomática como única alternativa viável. “A ABES tem atuado em diálogo constante com o governo brasileiro, sobretudo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), reforçando a necessidade de evitar escaladas comerciais e retaliações que possam agravar ainda mais o cenário”, pontua a nota.
Cenário do setor
O alerta da ABES acontece em um momento em que o Brasil tem conquistado avanços relevantes no setor de tecnologia. De acordo com a segunda parte do Estudo Mercado Brasileiro de Software – Panorama e Tendências 2025, divulgada pela própria ABES em parceria com a IDC, o país liderou os investimentos em TI na América Latina no ano passado, movimentando US$ 58,6 bilhões em 2024 — um crescimento de 13,9% em relação ao ano anterior. O estudo projeta ainda um crescimento de 9,5% em 2025, com destaque para áreas como computação em nuvem, inteligência artificial e sistemas ERP.
Com um mercado que representa aproximadamente 80% do faturamento do setor de software e serviços no Brasil, a ABES reúne cerca de 2 mil empresas distribuídas em 24 estados e no Distrito Federal. Em 2024, essas organizações foram responsáveis por R$ 103 bilhões em faturamento e mais de 260 mil empregos diretos.
Ao final do comunicado, a ABES reforça que seguirá “atenta e atuante” junto aos setores público e privado para defender um ambiente de negócios moderno, estável e justo. “O Brasil não pode perder o momento histórico de transformação digital impulsionado por novas tecnologias”, conclui a entidade.