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Setor da construção ganha plano global para acelerar transformação sustentável

Em meio às discussões centrais da COP30, um dos setores mais determinantes para a transição climática deu um passo estratégico rumo à padronização e à inovação. O ambiente construído — responsável por cerca de 34% das emissões globais de CO₂, segundo o Global Alliance for Buildings and Construction (GlobalABC) — acaba de receber o Action Paper sobre Construção Sustentável, documento que consolida prioridades globais para acelerar a transformação tecnológica, regulatória e operacional da construção civil.

Lançado na Blue Zone da COP30, o plano sintetiza um ano de análises e consultas internacionais conduzidas pelo Observatório de Construção Sustentável, iniciativa da Saint-Gobain que reúne, em escala global, dados, análises e debates sobre como o setor da construção pode reduzir drasticamente suas emissões, preservar recursos naturais e promover moradias mais dignas — tudo com foco na meta de neutralidade de carbono até 2050. Por meio de três pilares — ouvir o mercado para mapear barreiras e tendências; informar os stakeholders com relatórios e publicações; e unir profissionais e instituições para compartilhar melhores práticas — o Observatório busca gerar padronização, inovação e governança colaborativa na construção sustentável.

Benoit Bazin, CEO global da Saint-Gobain

“A COP30 nos lembra da urgência de agir e de manter o alinhamento com nossas metas globais. Este Action Paper transforma inteligência coletiva em impacto mensurável”, afirmou Benoit Bazin, CEO global da Saint-Gobain. A empresa, referência global em construção leve e sustentável, tem papel central na articulação do documento, reforçando seu compromisso em fomentar modelos colaborativos e soluções tecnológicas de baixo carbono.

O plano parte de seis eixos estruturantes que orientam os caminhos possíveis para o setor. O primeiro deles é a necessidade de uma definição globalmente alinhada de “construção sustentável”, já que a multiplicidade de interpretações dificulta a padronização de indicadores, a integração entre ferramentas digitais e a convergência de políticas públicas. Outro eixo central é o fortalecimento da colaboração como infraestrutura essencial: a construção segue como um dos setores mais fragmentados do mundo, e o documento defende a criação de mecanismos de governança conjuntos, interoperabilidade entre plataformas, integração de dados — incluindo BIM — e racionalização de iniciativas para evitar sobreposições.

O Action Paper também propõe que resiliência e adaptação climática passem a ser critérios obrigatórios nos projetos, indo além das abordagens restritas a energia e carbono. Isso inclui avaliação de riscos, modelagem de cenários extremos e especificações técnicas capazes de responder às pressões climáticas crescentes. Em paralelo, o plano destaca a urgência de estratégias específicas para mercados emergentes, que concentram a maior parte do crescimento urbano previsto até 2050. Códigos de construção adaptados, tecnologias acessíveis, industrialização eficiente e ferramentas digitais de baixo custo são recomendados como pilares para garantir escala e inclusão.

Outro ponto central é a necessidade de comprovar o retorno econômico das soluções sustentáveis. A percepção de alto custo ainda é uma barreira significativa, e o documento defende métricas unificadas, simulações, benchmarks e transparência de desempenho para demonstrar viabilidade financeira e incentivar investimentos. Por fim, propõe que sustentabilidade deixe de ser tratada como mera exigência regulatória e passe a ocupar o centro da narrativa como vetor de inovação, eficiência, qualidade, conforto e redução de riscos — atributos capazes de atrair capital e reposicionar o setor no centro da agenda climática global.

Essas diretrizes resultaram em 13 ações prioritárias, com aplicação direta em políticas públicas, investimentos, padrões de mercado, regulação, inovação e práticas operacionais. A construção do documento seguiu um modelo próximo ao de open innovation: doze especialistas globais lideraram o processo de revisão técnica, uma consulta internacional reuniu 1.797 respostas de participantes de 36 países, e 35 líderes da indústria, governo, finanças e sociedade civil refinaram o conteúdo em workshop presencial durante a Climate Week NYC.

A transição da construção é, cada vez mais, uma transição tecnológica. Digital twins, sensores IoT, inteligência artificial para modelagem e operação, plataformas de análise de carbono incorporado, modelagem energética avançada, rastreabilidade via blockchain e novos materiais compõem um ecossistema que cresce rapidamente. No entanto, a escalabilidade dessas soluções depende de três elementos ainda fragmentados: padronização, governança de dados e convergência regulatória. É essa lacuna que o Action Paper busca preencher ao propor um conjunto global de prioridades interoperáveis, criando condições para acelerar climate techs e ampliar investimentos em tecnologias aplicadas ao setor.

O Action Paper se soma a iniciativas como o Buildings Breakthrough, que pretende tornar edificações de baixas emissões o padrão global até 2030. Se a COP30 consolidou diretrizes e visão, o verdadeiro desafio começa agora: implementar em escala. Governos, construtoras, fabricantes, investidores, aceleradoras e startups disputam o protagonismo dessa transformação. Tradicionalmente lento, o setor da construção encara agora o relógio climático. O novo documento não resolve todos os obstáculos, mas oferece um mapa comum, reduz ruídos, fortalece a convergência internacional e acelera avanços que já estão em curso.

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