Análises

Arch Linux: Leveza e simplicidade

Meu Arch Linux, em fevereiro de 2009

O Arch Linux é uma distribuição Linux com sua primeira versão lançada em março de 2002 por Judd Vinet. Seus ideais são diferentes das distribuições que estão atualmente no topo: simplicidade de utilização no Arch Linux significa fazer o usuário aprender por si só como mexer no sistema, da maneira mais natural possível, e não encher a distribuição de ferramentas que escondem do usuário o real funcionamento do Linux. Segue bem o princípio KISS (Keep It Simple, Stupid), ou “Deixe isto simples, estúpido“.

Arch Linux developers and users believe that trying to hide the complexities of a system actually results in an even more complex system, and is therefore to be avoided

Em uma tradução livre, “Os desenvolvedores e usuários do Arch acreditam que tentar esconder a complexidade de um sistema acaba resultando em um sistema mais complexo ainda, o que deve ser evitado“.
Arch Linux

Como a distribuição evita ferramentas automatizadas de configuração, assim como o Slackware, ela é recomendada para usuários mais experientes em Linux e que conheçam seu próprio hardware, para que as configurações sejam feitas com sucesso. Apesar disso, uma característica que me impressionou foi a seguinte: os arquivos de configuração são extremamente bem comentados (e esse é um ponto forte da distro), o que significa que um usuário que não tenha preguiça de ler e saiba pelo menos o básico de inglês, provavelmente não terá problemas. A documentação é disponibilizada por meio da wiki oficial. A tradução da documentação é feita por usuários da comunidade brasileira do Arch.

Primeiras impressões

Logo ao fazer o download da distribuição, o usuário já encontra novidades. Não existe um LiveCD com tudo pronto e todos os softwares essenciais para que o sistema seja utilizado “normalmente”: ou você baixa o core, com os pacotes básicos da distribuição, ou baixa o ftp, com o mínimo para que uma instalação pela web seja feita. É importante lembrar que os “pacotes básicos” não incluem ambientes desktop ou interfaces gráficas: é tudo instalado na mão, após a instalação do básico. Justamente por esse motivo, o Arch não é lá muito recomendado para usuários dotados de conexões lentas com a internet, ou impacientes que não aguentam ficar vários minutos (ou até horas) na frente de um computador.

Outra novidade e, talvez, um ponto forte, é que, no Arch, não existe esse negócio de versão de distribuição. Os CDs disponíveis para download no site oficial apenas representam o estado atual de desenvolvimento da distribuição. Não importa se você baixou a ISO mais recente ou uma ISO um pouco mais antiga: com apenas um comando (que será abordado posteriormente), você tem um sistema totalmente atualizado. É ou não é legal?

Instalação

Na instalação, em modo texto, é possível ver o que o instalador está fazendo. Baixando pacotes, detectando dispositivos… Tudo isso pode ser feito trocando-se de terminal, geralmente para o vc/5. Após a instalação, o que se tem é uma base rápida e estável de softwares. Uma das vantagens de se instalar pela internet é obter todos os pacotes atualizados. Assim, você não se preocupa muito em atualizar o kernel cinco minutos depois de iniciar pela primeira vez o sistema.

O maior problema para os iniciantes é justamente o medo do modo não-gráfico: o Arch não vem com o servidor gráfico X e deixa uma livre escolha para que o usuário escolha seu ambiente ou interface gráfica, seja ele KDE, GNOME, Xfce, Fluxbox, Enlightenment, WindowMaker ou outra das dezenas existentes. Atualmente, não é mais necessário configurar o Xorg manualmente.

O Pacman é o gerenciador de pacotes padrão do Arch Linux, com controle de dependências. Provavelmente você terá alguns probleminhas indesejados com os acentos no seu teclado, assim como eu tive, mas nada que uma pesquisa rápida na wiki da distribuição não resolva o problema.

Antigo 'Hardware Detect' do Arch Linux - hoje, não é mais utilizado
Antigo 'Hardware Detect' do Arch Linux - hoje, não é mais utilizado

Um pequeno diferencial do Arch é o arquivo /etc/rc.conf, um dos arquivos mais importantes da distribuição, que armazena algumas configurações básicas, como o fuso horário, o layout de teclado e os daemons carregados durante a inicialização. O arquivo também é bem comentado e diz o que cada linha faz, para não deixar o usuário perdido.

Gerenciamento de pacotes

O Pacman é o gerenciador de pacotes padrão do Arch Linux, desenvolvido por seu criador, Judd Vinet. Bastante poderoso, o Pacman instala, remove, atualiza e faz downgrade de pacotes, com resolução automática de dependências. Como o Arch Linux utiliza um conceito bastante interessante, de não possuir versões de distribuição, basta fazer o Pacman atualizar todo o sistema para a última “versão” com apenas um comando, o pacman -Syu. Preocupações com possíveis perda de dados ou configurações problemáticas numa atualização de pacotes praticamente não existem.

Os repositórios também são um pouco diferentes. Ao invés dos tradicionais main, free e non-free de distribuições baseadas em Debian, o Arch utiliza apenas dois repositórios principais:

  • core, que traz os pacotes principais da distribuição e alguns adicionais, que se limitam em apenas um por função, ou seja, nada de vários players de áudio e editores de texto no repositório core.
  • extra, com pacotes que não são estritamente necessários para a distribuição, como ambientes gráficos (KDE e GNOME), por exemplo.

Existem ainda os repositórios oficiais testing, unstable (disponível apenas para i686), community e release. Mais informações sobre eles podem ser encontrados no artigo da wiki que trata sobre o assunto.

Performance

O Arch Linux é uma distribuição feita do zero, sem relações com RedHat ou Debian, como muitas das distribuições atuais. Os pacotes são compilados para as arquiteturas i686 e x86_64. A distribuição não é pesada, muito pelo contrário, é leve demais. Mas, pelo fato dos pacotes de 32 bits serem compilados para i686, a utilização fica limitada entre usuários com Pentium 2/Pentium Pro ou superior e Athlon ou superior. Ou seja, se você tem um processador mais modesto e prefere uma distribuição leve, mas completa, sem aquelas aberrações de kernel 2.2 e Firefox 1.0-pre, é melhor escolher algo nos moldes do Debian ou Slackware. No entanto, se você tem um processador que atende aos requisitos da versão 32 bits, o Arch utilizará grande parte da capacidade de processamento do seu processador, já que os processadores i686 suportam muitas instruções por ciclo, ao invés de se limitarem em apenas uma instrução por vez. Por conseguinte, os softwares ficam mais rápidos.

Num primeiro momento, o gerenciador de pacotes Pacman me pareceu meio lento para procurar e instalar os pacotes, se comparado com o apt-get do Debian ou até mesmo o urpmi do Mandriva (claro, não tanto a ponto de perder do YaST, mas…). Isso acontece porque o Pacman guarda muitos arquivos pequenos para gerenciar os pacotes, e esses arquivos ficam fragmentados com o tempo. Sabendo disso, o Arch vem com o hack pacman-optimize, que junta todos esses pequenos arquivos num só, em uma área contínua do disco rígido. Assim, como a cabeça do HD não precisará se mover tanto, o gerenciador conseguirá ler os dados mais rapidamente. Basta rodar um pacman-optimize && sync, ter muita paciência e pronto.

O tempo de boot é baixo. Numa configuração low-end, como a mostrada na primeira screenshot, o Arch consegue fazer o boot em tempos de 15 até 20 segundos, contando a partir do Enter no gerenciador de boot (GRUB) até a tela de login. Para efeitos de comparação, o Ubuntu 8.10 faz o boot na mesma configuração de 30 a 35 segundos e o openSUSE 11.0 de 50 a 60 segundos. Como o Arch não carrega muitas ferramentas e scripts automatizados no boot, a inicialização fica mais rápida.

Conclusão

O Arch é uma distribuição para quem precisa de algo leve, rápido e completo e já conhece como o Linux funciona por debaixo dos panos. Os pacotes são bem atualizados e a documentação é bem completa. Todas as dúvidas de configuração que tive na instalação foram resolvidos apenas lendo a wiki.

Após testar e fuçar um pouco, posso definir o Arch como uma distribuição bastante parecida com o Slackware, mas com algumas praticidades não encontradas nesta última. Se o Ubuntu serve melhor os iniciantes (por vezes sacrificando a performance) e o Slackware serve os “mais entendidos” de Linux, o Arch é um meio-termo entre os dois.

Pela sua leveza, simplicidade e robustez, recomendo fortemente um test-drive da distribuição. Com certeza, uma das distribuições Linux que mais gostei no meu tempo de usuário do sistema. Mesmo após quase dois anos da redação original desta análise, o Arch ainda figura como a minha distribuição preferida.

Meu Arch Linux, em fevereiro de 2009
Meu Arch Linux, em fevereiro de 2009

Se você percebeu, só duas screenshots apareceram durante o texto, diferentemente das outras análises de distribuição, que focaram um pouco mais no visual, justamente porque o forte do Arch não está no visual, está na base. Para fins de curiosidade, estou utilizando o Xfce como ambiente gráfico (não, eu ainda não estou a ponto de utilizar uma interface como o Fluxbox).

Artigo publicado originalmente em 9 de fevereiro de 2009 e atualizado posteriormente, seguindo as recentes mudanças da distribuição.

Tags: Destaques, Linux

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