A Internet é tida por muitos como um “território livre”, onde você pode falar o que bem entende, acessar o que lhe dá na telha e nada acontecerá com você, protegido pelo véu do anonimato. Sabemos muito bem que a realidade não é essa. Assim como em qualquer lugar do mundo, a internet é regida por leis, que se desobedecidas, provocam ônus ao infrator. Pelo menos em tese. Porém, o excesso de leis e de controle pode prejudicar a livre circulação de informação na grande rede e minar o caráter de liberdade que ela tem. Portanto, podemos concluir que o ideal é que a internet esteja sujeita à leis que protejam seus usuários de pessoas racistas, pedófilas e sociopatas em geral, mas que seja livre o suficiente da influência de governos e grandes corporações, para não prejudicar o livre compartilhamento de conhecimento. Então, o que acontece quando “alguém” tenta controlar demais a internet?
Isso: ontem o governo do Irã bloqueou o acesso dos cidadãos ao buscador Google e muitos de seus serviços, como o Gmail, GTalk e Google+. Por meio de uma SMS enviado aos cidadãos, eles informaram:
A pedido do povo, o Google e o Gmail serão filtrados em todo o país. Ficarão bloqueados até nova ordem.
A censura de grandes sites da internet não é bem uma novidade por lá. O YouTube e o Facebook já são bloqueados faz um tempo. Assim, o uso de proxys e VPNs se faz comum entre os usuários iranianos, para que estes possam burlar o bloqueio e usar a internet como qualquer um de nós. Porém, até março de 2013, proxys e VPNs talvez sejam inúteis. Isso por que o governo iraniano está pondo em prática um plano de sair da internet e ter a sua própria rede particular.
Chamada de “rede nacional da informação”, ela será uma substituta da famosa World Wide Web e já tem algumas agências do governo se conectando a ela. De acordo com o ministro das comunicações e tecnologia, Ali Hakim-Javadi, a nova rede será oficialmente mais rápida e mais segura, e proverá toda a informação que os cidadãos precisam. Segundo os líderes do governo iraniano, essa medida precisa ser adotada pois o Ocidente está travando pela internet uma guerra não declarada com os países do Oriente, com o intuito de desestabilizá-los. Acredito que eles estejam se referindo ao recente vídeo anti-islã que retratava Maomé e também às charges que se seguiram, bem como ao Stuxnet, um malware que infectou as usinas nucleares do país.
Seja qual for o motivo, eu não acho uma boa ideia uma internet totalmente controlada pelo governo. Ela é hoje uma das principais armas usadas por militantes contra governos ditadores e opressivos. Vide os casos recentes do Egito, da Líbia e da Argélia, que tiveram seus ditadores depostos justamente por esses não conseguirem controlar a grande rede. Com o governo controlando tudo que é acessado e postado, ele pode perfeitamente censurar a opinião de pessoas contrárias ao regime e cegar a mente da população, evitando revoltas e protestos. A única saída seria, talvez, colocar em órbita um satélite que daria acesso a internet como a conhecemos. Mas ele poderia ser facilmente derrubado por um míssil.
Outro problema, é o nível de fanatismo desses líderes religiosos. Não estou criticando o islã ou o judaísmo como religião, mas sim a forma como uma minoria os encara. E essa minoria na maioria das vezes está no poder. Um bom exemplo do nível de fanatismo em que eles podem chegar, foi a recente declaração do rabino Haim Kanievsk, que disse que se você tem um iPhone, “deveria queimá-lo sem pena”. Isso por que o aparelho pode ser uma verdadeira arma de guerra (!?) devido ao “potencial dano que pode causar”. E não foi só o iPhone que entrou na onda, pra ele, qualquer celular Android, BlackBerry ou outros promovem um “Holocausto espiritual”.
No dia 12 de setembro, houve um evento promovido pelo rabino Lior Glazer, que consistiu num ritual de destruição de iPhones, na cidade de Bnei Brak. Essa era uma resposta à “influência maligna do aparelho”. É por essas e outras que eu vejo com maus olhos uma internet completamente controlada pelo governo, seja ele ocidental ou oriental. De um lado, temos políticos corruptos que só pensam em extorquir o povo. De outro, líderes que acham que tudo é ofensa à religião deles e que a resposta deve ser na base da bala e da bomba. Enfim… boa sorte ao pessoal do Irã.
